Valuation: como calcular o valor justo de uma empresa?

Startups são empresas enxutas que utilizam tecnologia para resolver problemas dos seus potenciais consumidores. O que diferencia elas de uma empresa comum é a velocidade e o potencial de crescimento. Apesar do alto potencial, muitas empresas sofrem para fazer uma avaliação do seu valor justo (valuation), o que cria dificuldades na hora de conseguir novos investidores para o negócio. 

Esse post vai ajudar tanto o empreendedor, quanto o investidor, a calcular um valor próximo do justo para uma startup.

O valuation

Normalmente, investidores não gostam de pagar mais caro do que deveriam, é por isso que eles recorrem a métodos quantitativos na hora de avaliar uma empresa. O valuation consiste em uma metodologia para encontrar o valor justo.

Por exemplo, você pagaria R$ 1.000 por uma maçã? Se você fizer uma breve pesquisa, verá que esse preço é um grande absurdo. O mesmo também se aplica a empresas, principalmente para startups.

Por conta disso, é importante saber avaliar o valor real aproximado de uma empresa antes de investir na mesma. Isso também se aplica ao mercado de ações. A metodologia mais utilizada é avaliar o fluxo de caixa descontado e o múltiplo.

A importância do cálculo de valuation

O valuation é uma forma de conhecer melhor a sua empresa, detectar fraquezas e saber do seu potencial futuro. O empreendedor consegue calcular uma fatia societária justa, o que tornaria a empresa mais atrativa para investidores.

Para o investidor, o cálculo de valuation auxilia na tomada de decisão de investir, evitando que ele pague mais do que essa empresa deveria valer. Ter em mãos uma metodologia quantitativa é essencial para isso.

Os dois métodos mais utilizados por investidores são o de trazer o fluxo de caixa projetado do futuro para o presente, corrigido com juros ou uma taxa livre de risco, ou utilizando múltiplos. 

Fluxo de caixa descontado

O primeiro passo é projetar um fluxo de caixa futuro para os próximos 5 anos (mínimo), que consiste em descontar as despesas da receita. Esse fluxo pode ser feito com base em dados passados da própria empresa. 

O problema é que nem todas as empresas possuem anos de idade de vida, algumas estão começando agora e estão correndo atrás de investidores, como no caso das empresas startups. Nesse caso, a análise é menos precisa ainda.

Quanto mais tempo for projetado, menos precisa será a análise. O segundo passo é definir uma taxa livre de risco, que é geralmente a Selic (taxa de juros básica).

É preciso projetar fluxos de caixa para três cenários diferentes: pessimista, neutro e otimista. Isso ajuda a garantir maior precisão na análise, embora os números sejam apenas projeções.

Como calcular fluxo de caixa descontado (simples)

Depois disso, é preciso corrigir o fluxo de caixa anual pela taxa de juros livre de risco anual. Por exemplo, suponha uma taxa de juros de 10% e o faturamento de 5 anos de uma empresa. 

Resultado projetado para o Ano 1: R$ 50.000

Resultado projetado para o Ano 2: R$ 58.000

Resultado projetado para o Ano 3: R$ 65.000

Resultado projetado para o Ano 4: R$ 70.000

Resultado projetado para o Ano 5: R$ 82.000

É necessário corrigir esses valores e trazê-los para o presente. Isso pode ser feito através da seguinte fórmula: VP (Valor presente) = Resultado ano / (1 + taxa de juros) ^ tempo

Ano 1: R$ 50.000 / (1+0,1)^1 = R$ 45.454,55

Ano 2: R$ 58.000 / (1+0,1)^2 = R$ 52.727,27

Ano 3: R$ 65.000 / (1+0,1)^3 = R$ 59.090,91

Ano 4: R$ 70.000 / (1+0,1)^4 = R$ 63.636,36

Ano 5: R$ 82.000 / (1+0,1)^5 = R$ 74.545,45

Depois de trazer a receita futura para o presente, é hora de somar e estimar o real valor da empresa, que seria de R$ 295.454,55, com base no resultado do fluxo de caixa descontado. 

Vale lembrar que esse é um cálculo simples. Existem métodos mais complexos de se calcular fluxo de caixa descontado. A Endeavor disponibiliza uma planilha gratuita com tutorial para auxiliar no preenchimento.

Valuation em relação ao lucro e os múltiplos

Investidores procuram por empresas que estejam mais estabelecidas, com alto potencial de crescimento e menor grau de incerteza. As empresas que oferecerem a melhor relação de risco e retorno irão apresentar o maior valor.

Além disso, essas empresas precisam entregar um alto potencial de crescimento para compensar o investimento. Geralmente, investidores de startups compram 10 para ter chance de ser bem sucedido em 2 ou 3. Essas empresas bem sucedidas precisam oferecer um retorno que pague o dinheiro gasto nas outras opções que falharam.

Além disso, muitos investidores só colocam dinheiro em empresas que tenham uma receita proporcionalmente justo ao valuation, isto é, que tenha um bom múltiplo. Ou seja, não adianta ter uma ideia genial, é preciso testá-la, colocar no mercado e ter clientes

Por exemplo: uma empresa tem uma boa ideia, mas tem uma receita anual de R$ 0 e pede R$ 4.000.000 de investimento por 25% das ações. Qual deveria ser o valor dessa empresa? Você investiria? 

Calculando pelos múltiplos: R$ 4.000.000 / 0,25, o empreendedor está avaliando sua startup com receita anual de R$ 0 em R$ 16.000.000, o que é um valor absurdamente alto para se pagar por uma empresa que não teve lucro

Além disso, considerando a receita passada, essa empresa precisaria crescer infinitamente sua receita ao longo dos anos para justificar seu valor. Portanto, como investidor, eu jamais colocaria dinheiro, porque o risco é muito alto.

As rodadas de captação

O que poucos esquecem é das próximas rodadas de captação, talvez pela ansiedade de conseguir um capital inicial para começar suas operações (seed capital). O problema é que nessa ansiedade, investidores anjos tendem a se aproveitar para barganhar mais participação.

Os fundadores da startup costumam subir o valuation para diminuir a fatia do investidor, ou aceitar a sua oferta. Ambas alternativas são incorretas e atrapalham futuras captações e novas rodadas de investimentos.

O empreendedor é o maior ativo de uma startup. A diluição extrema de sua participação poderá desmotivar e fazer com que ele saia do negócio.

Um grande problema do investidor com grande participação é que muitas vezes, o valuation pode não subir na próxima rodada, o que pode gerar um grande problema com o primeiro investidor, que poderá não aceitar essa diminuição de valuation, porque ele tomou mais risco.

Um investidor anjo com alta participação no início também espanta futuros investidores em uma nova rodada. O adequado é que ele tenha uma participação entre 10 e 20% por fornecer o seed capital (capital semente, que dá início à empresa), o que tornaria mais fácil a entrada de investidores profissionais e fundos de venture capital (capital de risco).

Apesar de tudo, o valor é relativo ao risco e retorno

Você pode utilizar os dois métodos acima, mas o valor de sua startup é subjetivo para cada investidor. Alguns podem estar mais dispostos a assumir maiores riscos para obter maiores retornos. Contudo, nenhum investidor coloca dinheiro em empresa que não possui perspectivas futuras. 

Empresas sem produto podem conseguir captar, isso está mais ligado à competência dos empreendedores, que passam confiança para os investidores, ou possuem bons contatos. 

No entanto, isso não é regra, porque os investidores gostam de risco, mas também não são suicidas. Eles procuram startups que oferecem menor grau de incerteza no futuro. Ou seja, é preciso ter produto no mercado e estar minimamente estruturada.

O método de Fluxo de Caixa Descontado pode te ajudar a conseguir uma mensuração ao observar os resultados financeiros projetados e trazê-los para o presente. O lado negativo disso é que nem todas as empresas têm uma forma confiável de estimar os resultados, o que torna esse modelo frágil para empresas nascentes.

O segundo método é mais utilizado por investidores anjos no geral, ainda mais em startups. Mas ele depende muito mais de “feeling” e de negociação entre empreendedor e investidor. Geralmente os múltiplos são abordados na primeira conversa até ir para uma conversa mais avançada com fluxo de caixa descontado.

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