O que esperar da bolsa no mês de março?

No mês de fevereiro, com seus apenas 18 pregões, parecia ser tranquilo durante a sua abertura, todavia ao longo do mês tivemos dias turbulentos, com a Bolsa brasileira fechando em queda de 4,21%, a 110.217 pontos.

Mas afinal, o que esperar da bolsa no mês de março? Venha conferir!

Curva da Covid-19 subindo novamente

O país registrou no último dia útil do mês (26/2) uma média móvel de 1.153 óbitos, a maior de toda a pandemia, de acordo com o boletim do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).

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Mapa de morte por Covid-19 – Fonte: G1

Foi o terceiro recorde consecutivo deste índice no Brasil, que registrou um total 252,8 mil mortes até este momento. A média móvel de novos casos também está aumentando desde o meio de fevereiro e ficou em 53.422 na sexta-feira. O país registrou 10,45 milhões de infecções desde o início da pandemia.

Enquanto isso, alguns Estados e cidades brasileiros veem seus sistemas de saúde entrar em colapso e adotam medidas mais rígidas de isolamento, como lockdowns e toques de recolher, para tentar reverter a alta de casos e internações.

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Mapa estabilidade Covid-19 no Brasil – Fonte G1

É preciso estar atento, caso a situação não melhore, as empresas ligadas a abertura econômica e vacinação podem ser as mais prejudicadas, como a aviação, turismo, bares e restaurantes, shoppings e vestuário.

Economia voltando a contrair

O Brasil havia passado por uma recessão iniciada em 2014 e que durou até 2016. Após isso, foram anos de baixo crescimento e produtividade, com o mercado de trabalho ruim e com informalidade crescendo, além de desafios fiscais. Todavia, no meio do caminho nos deparamos com uma pandemia, que exigiu do Governo uma enorme transferência de renda.

A economia brasileira deve registrar uma leve retração no primeiro trimestre. Entretanto, com o avanço da vacinação, a recuperação da atividade econômica pode se acelerar e o Produto Interno Bruto (PIB) pode fechar 2021 com um crescimento de 3,29%, conforme divulgado no Relatório de Mercado Focus.

No entanto, apesar da chegada dos insumos e das doses prontas, a campanha de vacinação segue em ritmo lento no Brasil. De acordo com os dados coletados no último dia do mês de fevereiro, através do consórcio de veículos de imprensa formado por G1, O Globo, Extra, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e UOL, 6.576.109 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19 até agora, o que representa 3,11% da população brasileira.

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Mapa da vacinação contra Covid-19 no Brasil – Fonte: G1

Renovação do auxílio emergencial e risco fiscal

No intuito de garantir maior popularidade para a reeleição, o Governo bateu o martelo e confirmou que as novas parcelas do auxílio emergencial devem ser liberadas em março, reajuste em seu valor.

Diante da manutenção do projeto, o ministro da economia, Paulo Guedes, elabora estratégias para que o teto de gastos da União não seja extrapolado. De acordo com Guedes, a previsão é de que os valores do auxílio emergencial se enquadrem por meio da PEC do Pacto Federativo.

No entanto, é importante frisar que a PEC sozinha é uma muleta, ou seja, um atalho para conseguir sustentabilidade. A PEC por si só não consegue se sustentar no longo prazo, pois seria preciso reduzir os gastos obrigatórios, como a educação e saúde.

Entre outras ações, Paulo Guedes não descarta a possibilidade de corte de jornada e salário de servidores públicos de União, estados e municípios e congelamento de gastos, com exceção do reajuste pela inflação do salário mínimo.

Sobre este assunto, a palavra aqui é incerteza e incerteza é algo péssimo para o mercado financeiro, tornando a bolsa no mês de março muito mais desafiadora para os investidores.

De olho na inflação e na SELIC

Uma taxa de câmbio persistentemente fraca, preços globais de commodities fortes e preocupações crescentes sobre a posição fiscal do governo estão aumentando as expectativas de inflação. Com isso, a perspectiva para a inflação brasileira neste ano subiu pela oitava semana consecutiva, atingindo nova alta de 3,87%, de acordo com o último Boletim Focus.

Pensando nisso, o mercado financeiro prever que um processo de alta dos juros básicos da economia, fixados pelo BC para controlar a inflação na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

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No curto prazo, a curva de juros passa a precificar 80% de probabilidade de aumento de 0,5 ponto percentual na Selic já em março. DI jan/22 fechou em 3,63%; DI jan/24 foi para 6,55%; DI jan/26 encerrou em 7,5%; DI jan/28 fechou em 8,05%.

A expectativa dos analistas dos bancos é de que a taxa passe de 2% para 2,25% ao ano neste mês. Com o aumento dos juros de curto e longo prazo, as incorporadoras da bolsa, como MRVE3, CYRE3, TEND3, EVEN3 e EZTC3 poderão ser as maiores prejudicadas da bolsa no mês de março.

O segmento tende a sofrer com o custo da dívida, que voltando a aumentar, faz com que novos investimentos deixem de ser viáveis, diminuindo sua presença no mercado.

EUA subindo a régua dos juros

Em 2008 o desemprego demorou 10 anos para retornar a níveis pré-crise, hoje observamos que as estimativas para o retorno dos EUA ao nível de desemprego anterior giram em torno de apenas 2 anos.

Além disso, o Presidente americano Joe Biden pressiona por um novo pacote de 1,9 trilhão de dólares. Isso significa que mais estímulos em cima de uma economia com recuperação acelerada, levam o Banco Central do país (FED) a elevar as taxas de juros antes do esperado, podendo gerar um risco gigante de sobreaquecimento e inflação.

Isso significa que em um cenário de crescimento econômico rápido e desenfreado, as bolsas tendem a sofrer bastante. Ações de empresas alavancadas tendem a ser mais penalizadas, conforme ocorrido na bolha das “.com“.

Se todo esse risco existe e bate à nossa porta, os detentores de títulos deveriam cobrar taxas maiores para financiar esse emissor que passou a ser mais arriscado. Ou seja, depois de 30 anos de juros americanos em tendência de queda, poderíamos estar falando do início de uma tendência longa de juros americanos subindo.

Interferência política a solta

A largada para as eleições de 2022 já começou e a disputa do Governo com os investidores em fevereiro não foi das melhores. Ao que parece a interferência está longe de ter um fim.

A Petrobras (PETR4), por exemplo, uma das gigantes do índice brasileiro, desvalorizou 16,67% no acumulado do mês, após a saída de seu presidente, Roberto Castello Branco, para a chegada do general da reserva Joaquim Silva e Luna.

A troca de comando está relacionada à insatisfação do presidente da República com os recentes reajustes no preço da gasolina e do diesel, o que reflete diretamente no bolso de muitos brasileiros, impactando a popularidade do governo, que planeja a reeleição.

Veja também: O que fez o preço dos combustíveis subir tanto? Entenda!

As ações do Banco do Brasil (BBAS3)  também não escaparam dos conflitos políticos dos últimos dias. Ao que parece, Bolsonaro não aprovou a agenda de desinvestimentos e enxugamento da estrutura do Banco, feita por André Brandão, Presidente do Banco do Brasil, escolhido pelo próprio ministro Paulo Guedes.

As medidas envolviam o fechamento de 112 agências e o desligamento de 5 mil funcionários, por meio de programas de demissão voluntária. Com isso, o Banco do Brasil (BBAS3) desvalorizou 15,90% no acumulado do mês.

Com isso, o mercado se pergunta se é o começo do fim, onde Bolsonaro deixa de confiar em Guedes para tocar a política econômica. Causando certo estresse e aumentando o prêmio de risco de todos os ativos da bolsa, principalmente às empresas estatais.

Caso o presidente se incline demais ao populismo, protagonizado no governo Lula e Dilma, o estrago na bolsa no mês de março pode ser gigante.

Dólar deve se valorizar

A acelerada pressão inflacionária nos EUA pode obrigar o Federal Reserve (Fed) a elevar os juros antes do esperado, com efeitos diretos sobre mercados emergentes, como o Brasil.

Caso esse cenário ocorra, os bancos centrais terão que recalibrar a política monetária, neste caso, a taxa de câmbio seria a mais atingida, fazendo com que o dólar ganhe mais força contra o real. Ou seja, com os juros mais altos nos EUA, os investidores começam a migrar seus investimentos para ativos mais seguros, e não há nada mais seguro no mercado do que o títulos da dívida norte-americanos, os Treasuries. Essa “corrida” elevaria a demanda por dólar, e, como consequência, a subida no seu preço.

Com a valorização da moeda, empresas exportadoras de commodities com receita em dólar entram no radar. Historicamente as siderúrgicas brasileiras se sobressaem com o dólar alto, conseguindo repassar os custos mais altos relacionados ao dólar para seus clientes locais.

Outro setor que adquire efeitos positivos com a alta dólar é o de frigoríficos. A demanda por carne é resiliente, as margens do setor são sólidas e as exportações de proteína podem ser beneficiadas com a elevação do câmbio.

Conclusão

Seja pela eleição, pela inflação, vacinas com pouca eficácia e demora, crises políticas e econômicas, uma coisa é certa, para o investidor brasileiro os riscos sempre estarão presentes, principalmente para aqueles que anseiam por ganhar dinheiro rápido.

É importante ressaltar que o mercado muda de humor a todo momento, bem como suas premissas e projeções. Ficando extremamente otimista ou exageradamente pessimista a cada novo noticiário.

Neste cenário incerto é importante que o investidor tenha uma alocação balanceada entre ativos de renda fixa e variável. Caso o cenário se recrudesça ainda mais, prejudicando no curto prazo o mercado de ações, tal movimento pode ser visto como uma oportunidade para aumentar um pouco a alocação nessa classe de ativo.

Além disso, a queda recente na bolsa brasileira mostra um bom ponto de entrada para quem ainda não investe fora do Brasil. O investidor brasileiro deve revisitar suas alocações na bolsa no mês de março e aguardar que o cenário incerto tome algum rumo, a fim de que se possa analisar as perspectivas de crescimento e os riscos das empresas.

Veja também: Como investir no exterior e se proteger do Risco-Brasil

Em suma, para a bolsa no mês de março, ter dinheiro em caixa pode ser um grande trunfo, lembre-se que são necessários alguns anos para que estratégias sejam bem executadas e se tornem resultados. Por pior que seja o momento é de extrema importância que o foco seja nos resultados, não nas cotações.

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