Como o ruído atrapalha seus investimentos

Se tornar um voraz consumidor de notícias pode ser muito prejudicial para o investidor. O ruído nos investimentos ainda é um fator que atrapalha muitas pessoas na tomada de decisões. Não tenho nada contra ler jornais ou algo do tipo, obter informação de qualidade é um essencial para quem está investindo.

O real problema é obter informação de qualidade que ajudem você a tomar uma melhor decisão. Não é um exagero afirmar que pelo menos 90% das notícias que consumimos são apenas ruídos e informações irrelevantes.

Ruído nos investimentos

Ruído nada mais é do que informação irrelevante. O problema não é nem ser irrelevante, e sim o estrago potencial que ele pode fazer na sua carteira de investimentos.

Infelizmente, poucos jornalistas entendem de mercado ou investimentos. E, querendo ou não, as notícias carregam vieses comportamentais que podem atrapalhar ou confundir qualquer investidor.

Por exemplo, se a Petrobras cair 10% amanhã, provavelmente você verá muitas matérias pessimistas sobre a empresa. Se o investidor toma suas decisões com base em notícias, provavelmente vai entregar suas ações da Petrobras ao mercado. O que pode não ser uma boa decisão no momento.

O viciado em gráficos

Esse também é um problema grave. Ficar com os olhos vidrados no gráfico, acompanhar o preço do ativo diariamente e consumir notícia a todo minuto são a fórmula da união perfeita para a tomada de decisões ruins.

Costumo dizer que meu pai seria um ótimo trader. No começo de 2019, o Bitcoin estava custando US$ 3,200 depois de cair de US$ 19,000 em 12 meses. Meu pai, que não consome nenhuma notícia e nunca viu um gráfico, havia me dado a call: é hora de comprar. No auge da minha inocência, o questionei falando: “Mas é um bom momento? Ultimamente só tenho visto notícias ruins”.

Eu já estava enviesado naquela situação, porque trabalhava cobrindo esse mercado. Se você abrisse qualquer site de notícia do setor, provavelmente veria notícias ruins e sites de análise técnica indicando que o Bitcoin iria para US$ 1,800.

Ficar vendo gráfico e preço a todo minuto atrapalha em tudo: estratégia, psicológico e compreensão do mercado. O ideal é buscar entender o contexto da situação e o real valor do ativo através de uma boa análise fundamentalista, que considere um tempo maior de avaliação.

Tentando explicar o acaso

Os movimentos no preço de uma ação são aleatórios no curto prazo. Principalmente se esse movimento está dentro do padrão histórico.

Seria relevante, por exemplo, eu tentar explicar o porquê de o preço do Bitcoin ter caído 2% no dia? Essa movimentação é comum e acontece diariamente. 

As notícias tendem a exagerar nas relações de causa e efeito, assim como criar relações que simplesmente não existem. 

Esses tipos de conteúdo são meramente distrações que nos impedem de enxergar todo o retrato. Ou seja, ficamos presos na miopia do curto prazo, sem aproveitar as oportunidades de mercado.

Viés de sobrevivência

Taleb argumenta que carregamos um viés pessimista muito forte. Isso acontece porque o medo é um mecanismo de sobrevivência que nós, enquanto seres humanos, utilizamos como uma defesa.

Essa defesa acaba nos impedindo de se beneficiar de longo prazo. A bolsa americana se valoriza, em média, mais de 12% ao ano há mais de 40 anos. Vale lembrar que isso é uma média. Em alguns anos ela pode valorizar mais de 12%, em outros anos, menos.

Isso significa que, na maioria das vezes, você só verá notícias positivas sobre a bolsa de valores. 

O mundo está melhorando lentamente, a pobreza está diminuindo. Logo, se você olhar sua carteira de investimentos uma única vez por ano a cada 40 anos, você terá uma notícia boa em 93% das vezes.

Notícias ruins

A questão muda se você ficar olhando sua carteira a cada trimestre. 67% das vezes as notícias serão boas: a bolsa subiu, você está mais rico. 

Agora imagine se você ficar vendo isso todos os dias? Metade das notícias que você ler serão necessariamente ruins. Logo, quem acompanha sua carteira todos os dias, pode ser tomado pelo viés do medo com muito mais facilidade.

Quem só presta atenção no curto prazo, não consegue enxergar todo o retrato. A bolsa americana cresce em média 0,056% ao dia, o que é imperceptível. Colocando isso anual, chegamos à média de 12%.

Quem fica preso no curto prazo só presta atenção na volatilidade diária e não na tendência de longo prazo. Ou seja, você está sendo iludido pelo aleatório, ou iludido pelo acaso. Isto é, iludido pelas pequenas flutuações diárias, que são normais.

É por essa razão que o trader de longo prazo tende a ganhar mais dinheiro que o day trader, que consome muita notícia, gráfico e cotação. O trader tende a ficar muito exposto a ruído nos investimentos.

Conclusão

Manchete negativa dá clique, é por essa razão que as capas do jornal sempre trazem notícias ruins na frequência diária. Mas o curioso é que geralmente são menos pessimistas em edições mensais e extremamente otimistas em edições anuais.

Quem consome notícia freneticamente tende a ser “iludido pelo acaso”, ou adotar o medo como forma de se defender. É inevitável a natureza humana.

O jornalismo sério é aquele que sabe contextualizar, passar a tendência de longo prazo e se concentrar no horizonte à frente. Caso contrário, a notícia vira só ruído e o investidor vira um especulador.

Infelizmente, o ruído nos investimentos ainda é um mal que atrapalha a estratégia de muitos investidores. A única maneira de remediar isso é reduzindo a frequência do consumo de informações.

Leia também:

  1. Você é um investidor ou é um especulador? Saiba a diferença
  2. Estratégia de Barbell: como ter uma carteira antifrágil
  3. Como controlar o viés comportamental nos investimentos
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