O recente processo de bancarização do brasileiro

Segundo pesquisa  realizada pelo Instituto Locomotiva em 2019, havia no país  cerca de 45 milhões de brasileiros desbancarizados, um grupo bastante grande, que movimentou naquele ano, mais de 800 bilhões de reais. Esse grupo, formado por diversos empreendedores, autônomos e ambulantes, até então, não sentia necessidade de efetuar transações pela via bancária, no entanto, os efeitos provocados pela pandemia, vem mudando esse cenário de bancarização no país. 

Esse número de lá pra cá, vem diminuindo muito, segundo dados do estudo “Aceleração da inclusão financeira durante a pandemia da covid-19”, houve uma queda de mais de 70% deste quantitativo no ano passado, devido principalmente a necessidade dos brasileiros em utilizarem serviços online.

Auxílio emergencial e o comércio eletrônico

O Auxílio emergencial, sem dúvidas, foi o fator mais relevante para o crescimento da bancarização da população em geral, tendo em vista que, para receber o auxílio, os contemplados, precisam baixar o aplicativo “Caixa Tem”, criando instantaneamente uma conta na caixa, ou pelo menos, indicando uma conta de outro banco já existente. 

Dessa forma, para que se pudesse efetuar a transferência do auxílio, o Governo, através da Caixa, também disponibilizou o saque pela agência, no entanto, devido às grandes filas formadas, o aplicativo se tornou bastante popular, batendo recorde de downloads.

Além disso, o comércio online cresceu bastante, em grande parte impulsionado pelo home office, que se tornou uma realidade de muitos trabalhadores. Como resultado, diversos tipos de pagamento eletrônicos se tornaram cada vez mais necessários, até mesmo as compras de supermercado de muitos brasileiros passaram a ser feitas de forma online, seja através de aplicativos de entrega, como ubereats, rappi e ifood ou através da própria plataforma do supermercado.

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A chegada do PIX facilitou a bancarização dos brasileiros 

O PIX, lançado em 2020, é uma forma de pagamento instantânea que possui diversas vantagens em relação aos meios de pagamento e transferências tradicionais, como TED e DOC. 

O PIX possibilita aos seus usuários, transferências a qualquer horário, nos 7 dias da semana, de forma totalmente gratuita, enquanto no caso do TED e do DOC, há restrições de horário, demora para transferência, além de tarifas que são cobradas pelas instituições financeiras.

Diante de tantos benefícios, o número de transações vem crescendo substancialmente. Nos últimos seis meses de operação, o sistema registrou 1,5 bilhões de transações, além de mais de 230 milhões de chaves PIX registradas. O sistema se mostrou bastante confiável e o suposto receio de fraudes, não se confirmou, tendo em vista que, os golpes que utilizam a chamada do “PIX”, necessitam de uso de engenharia social, não explorando quaisquer brechas do sistema. 

A rápida aceitação do PIX, principalmente entre usuários jovens, na faixa de 20 a 39 anos, tem o colocado como a transação mais popular desde março. De olho nessa adesão, o mercado tem ampliado a aceitação de diversos tipos de pagamento via PIX, como por exemplo, a conta de água, que já pode ser paga pelo sistema, amplificando o processo de bancarização

Uma nova modalidade: PIX cobrança

Desde o dia 14, os bancos e instituições financeiras que aderiram ao PIX, passaram a oferecer o PIX cobrança, semelhante a um boleto bancário e com a possibilidade de inclusão de juros e multa, esse serviço, permite o pagamento imediato para empresas e prestadoras de serviços, utilizando a tecnologia QR code (uma versão mais atualizada do código de barras). 

Por enquanto o serviço ainda não permite que sejam realizados agendamentos de pagamentos, funcionalidade que só deve entrar em vigor a partir do dia 1 de julho.

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As fintechs

Abreviação para financial technology (tecnologia financeira, em português), as fintechs, foram sem dúvida, o primeiro grande passo para o processo de bancarização dos brasileiros.

Essas startups, também conhecidas como empresas que desenvolvem produtos financeiros totalmente digitais, trouxeram novos conceitos, como isenção de anuidade do cartão de crédito, praticidade com a utilização do aplicativo e novas formas para que o usuário possa cuidar das suas próprias finanças com mais simplicidade.

Como resultado, as fintechs incomodaram e fizeram os grandes bancos reverem suas políticas de cobranças e serviços, com isso, os usuários insatisfeitos com a forma tradicional, passaram a fazer parte do mundo bancário através dessas fintechs, como Nubank, Neon e Picpay. 

Contra ataque dos Bancões

Muito pressionados pela expansão de fintechs, os grandes bancos, como Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, não ficaram parados. Observando essa tendência de digitalização do mercado, aceleraram suas estratégias na área digital e passaram a disponibilizar opções de contas digitais gratuitas.

Além disso, abriram mão da anuidade no cartão de crédito (para algumas categorias) e criaram unidades autônomas como ITI (Banco Itaú) e Next (Bradesco), que possuem foco total na área digital, enquanto o Santander preferiu integrar as contas digitais ao seu próprio ecossistema digital. 

Bancarização: Quem ganha é o usuário

Sem dúvidas, o vencedor nesse cenário de ampla concorrência e novos serviços gratuitos, é o próprio usuário, que tem a sua disposição, diversas opções de produtos financeiros, com tarifas muito mais atraentes do que há um tempo atrás.

Dessa forma, é importante que, na hora de procurar um banco, compare bastante, entenda as tarifas que são cobradas e adeque a sua necessidade ao que o banco lhe oferece. 

Conclusão

O processo de bancarização é benéfico para toda população, como forma de garantir o acesso a diversos serviços financeiros. Além disso, é uma importante pauta para economia, uma vez que, com a entrada das fintechs, há um natural estímulo à concorrência.

No entanto, é importante frisar que, por mais que as fintechs façam sucesso entre os seus usuários, ainda representam uma pequena parcela no setor. Para que você possa ter uma ideia, de acordo com o relatório de Economia Bancária divulgado pelo Banco Central (BC), os cinco maiores bancos concentram mais de 80% dos depósitos e empréstimos no País. 

Em suma, após o primeiro passo com as diversas opções de cartão de crédito sem tarifa,  estímulo da concorrência com as fintechs e com a chegada do PIX, há um barateamento dos custos de transação, trazendo uma importante dinâmica para os pagamentos em geral.

Todos esses fatores agregados, demonstram a consolidação do movimento de bancarização no Brasil. Que por sua vez, agrega no processo econômico do país, como também no desenvolvimento e qualidade de vida de seus usuários, oferecendo maior acesso aos serviços financeiros, desenvolvimento da relação das pessoas com o dinheiro e a capacidade de organização financeira.

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