Presidente Republicano ou Democrata? Qual o mercado gosta mais?

Eleições presidenciais nos Estados Unidos podem trazer volatilidade para o mercado de ações.

Os Estados Unidos se aproximam de mais uma eleição presidencial. Donald Trump concorre à reeleição vindo do período de maior crescimento econômico da história. Os democratas ainda estão entre Joe Biden e Bernie Sanders para encarar Trump e mudar os rumos da economia americana.

Democratas e republicanos têm pontos de vista diferentes sobre a economia e a forma de atuação do governo. Quem está do lado republicado costuma ser mais alinhado com a ideia de liberalismo econômico, facilitar empreendimentos, diminuir o papel do estado na economia e liberar o mercado.

Por outro lado, Democratas acreditam no Estado de Bem Estar Social, com o governo tocando a economia, criando programas sociais e oferecendo saúde, educação e melhor distribuição de riqueza. 

A questão é: como o mercado reage quando o candidato de um dos partidos vence? Os investidores gostam mais de Republicanos ou preferem os Democratas? Ou ainda: será que isso realmente importa? Não deveríamos focar nos fundamentos dos ativos que estamos comprando?

Eleições nos Estados Unidos e mercado financeiro

Tomar decisões com base em viés político é uma péssima escolha. Vieses sempre nos atrapalham na capacidade analítica e de tomar decisões racionais com base em escolhas lógicas. Pior, investir com base em ideologia pode fazer com que você não consiga enxergar oportunidades e riscos inerentes em investimentos.

Um estudo interessante da Fidelity, uma das maiores instituições financeiras do mundo, mostra que há uma correlação entre o mercado de ações e o ciclo eleitoral (gráfico abaixo). No entanto, o mesmo estudo ressalta que nada é mais importante no longo prazo do que os fundamentos das empresas que estão no mercado, tais como: lucro, margem, endividamento e perspectivas futuras.

É de se esperar que, no curto prazo, o mercado de ações seja afetado pelas expectativas dos investidores em relação ao ponto de vista do presidente para as políticas econômicas. No entanto, se você investe a longo prazo, deve focar na economia e nos fundamentos dos ativos.

No fim das contas, se fosse só acertar o presidente vencedor, todo mundo teria ganhos acima da média do mercado. Na realidade, não é bem assim, pois o político tende a afetar menos o mercado do que imaginamos. Os dados da pesquisa da Fidelity endossam esse argumento.

Ciclos eleitorais

Muitos investidores tendem a acreditar que quando um candidato Republicano vence, o mercado de ações irá subir. Afinal, estaremos diante de um governo que promete interferir pouco na economia e deixar os mercados fluírem. 

Por outro lado, outros acreditam que os democratas se concentrarão mais na política social e verão essas mudanças como negativas para a economia. Esse medo pode levar a uma desvalorização das ações nos anos eleitorais em que um democrata prevalece.

Apesar de lógica, a narrativa de ambos os lados tendem a desaparecer quando olhamos para os dados. De modo geral, os dois primeiros anos dos presidentes de ambos os partidos trazem retornos abaixo da média para os investidores. Nos últimos dois anos de mandato, os ganhos apresentam melhora.

eleições americanas
Dados mensais (mix of S&P 500, Dow Jones Industrial Average, & Cowles index). Fonte: FMRCo e Fidelity.

Isso acontece porque nos dois primeiros anos, o governo eleito luta para aprovar suas pautas no congresso. Nos dois últimos anos, o governo luta para se reeleger, com isso vem estímulos na economia por meio de políticas fiscais (redução de impostos ou aumento de gastos do governo) ou políticas monetárias (redução de juros para incentivar a economia).

Essa mudança de rumos acontece muito por conta das eleições de meio de mandato, que podem mudar o jogo político e dar uma resposta sobre como foram os dois primeiros anos dos vencedores.

Toda essa dinâmica pode ser vista no gráfico abaixo. Nos dois primeiros anos um desempenho tímido. No final de mandato, desempenho bom. Além disso, há vários cenários no jogo político: partidos que vencem com maioria, partidos que vencem com divisão de poder, a simples vitória e a média geral.

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Dados mensais desde 1789 (mix of S&P 500, Dow Jones Industrial Average, & Cowles Commission). Fonte: FMRCo e Fidelity

De modo geral, o comportamento segue a mesma tendência no curto prazo. Mas o que dizem os dados de longo prazo?

Democratas ou Republicanos? Tanto faz.

Os dados de curto prazo apresentam diferenças entre Democratas e Republicanos. No entanto, dados de longo prazo mostram que no longo prazo não há diferença. O que importa é a economia e os fundamentos.

Na média do curto prazo, os Republicanos se saem melhor do que os democratas: 8,4% vs 5,4%. Mas e quando olhamos os dados de um mandato inteiro? A diferença dos retornos médios fica quase insignificante: 8,8% com Republicanos vs 8,4% com Democratas. 

Mesmo que ambos os partidos vençam com maioria, a diferença também é insignificante: 8,6% para os Republicanos contra 8,4% para os Democratas. Já no curto prazo, o mercado se empolga com grandes vitórias republicanas. Os retornos são de 12,2% para Republicanos vs 3,4% dos retornos com os democratas.

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Dados mensais desde 1789 (mix of S&P 500, Dow Jones Industrial Average, & Cowles Commission). Source: FMRCo e Fidelity

A política é um jogo. As condições estão sempre mudando e as eleições de meio de mandato mudam toda a dinâmica. No curto prazo, um presidente pode afetar no índice de ações. Mas se você levar para o longo prazo, verá que nenhuma narrativa política será capaz de fazer os dados se curvarem. No fim das contas, o que importa são os fundamentos.

O fundamento, sempre ele

Você não vai ficar rico escolhendo qual empresa comprar com base no lado que lado venceu. É possível ganhar dinheiro apostando, mas é bem mais arriscado e você tem mais chances de perder.

No fim do dia, o fundamento sempre baterá à porta da empresa: quantos clientes ela conquistou, quanto vendeu, como está sua dívida, como ela está se saindo no mercado, qual é a sua margem líquida. Essa deve ser a principal preocupação para quem está investindo em ações.

análise fundamentalista
Fatores a serem observados na análise fundamentalista. Fonte: Meetup Análise Fundamentalista vs Análise técnica.

Os políticos vêm e vão, podem fazer algumas besteiras e ir bem em algumas ocasiões, mas eles não afetam profundamente os fundamentos das ações. Obviamente, algumas decisões podem afetar a economia no curto prazo, mas de modo geral, os fundamentos econômicos também são os mais importantes: crescimento e produtividade.

Importante lembrar que esse texto se aplica à realidade da bolsa americana. A bolsa brasileira se correlaciona com as bolsas mais importantes, logo, a eleição americana afeta o preço dos ativos aqui no curto prazo, mas em menor magnitude. 

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