Como o coronavírus afeta os mercados e a economia?

As bolsas de valores ao redor do mundo tiveram um começo de semana difícil. Os investidores nem se lembravam mais de quando a bolsa teve uma queda de mais de 3% em um único dia. A causa de uma queda tão abrupta é bem clara: o medo causado pelo impacto do Coronavírus na economia global.

Esses eventos são daqueles que podemos chamar de “Cisne Negro”. Acontecem aleatoriamente, mas são altamente impactantes e difíceis de prever. O Coronavírus já está impactando a economia global. 

Mas esse não foi o primeiro caso de contágio em escala global: o vírus SARS e a gripe H1N1, respectivamente em 2002 e 2009, foram exemplos claros que servem de aprendizado.

O que movimenta a economia?

O funcionamento da economia pode ser assemelhado ao de uma máquina. A economia é movimentada por trocas, o combustível do motor. As trocas ocorrem em escala global e são baseadas consumo de bens e serviços. 

Alguns países como China, Estados Unidos, Rússia e Japão possuem relação comercial com quase todos os outros países do mundo. Portanto, qualquer impacto sobre a atividade econômica desses países irá diminuir a perspectiva de crescimento, pois a economia mundial desacelera.

Portanto, eventos inesperados como ataques terroristas, desastres naturais e problemas com doenças infectocontagiosas causam um grande transtorno. O fluxo de trocas sofre interferências, ou é parcialmente interrompido. Se esses eventos se prolongam por mais tempo, afetam profundamente o crescimento econômico.

Recentemente, a China está passando por um problema com uma doença contagiosa da família coronavírus. Desde que o contágio tem aumentando, as bolsas ao redor do mundo estão passando por momentos difíceis.

O coronavírus na China

O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Uma nova forma desse vírus surgiu em um mercado de peixe em Wuhan, na China. Desde então, mais de 4 mil pessoas foram infectadas em todo território chinês, tendo mais de 100 mortes confirmadas.

coronavirus
Mapa do Coronavírus. Fonte: Gisanddata

Os principais sintomas do novo vírus são: dificuldade para respirar, falta de ar, tosse, febre e problemas intestinais. Em alguns casos, pode evoluir para pneumonia e insuficiência renal, ocasionando morte se não for tratado. O contágio se dá pelo ar, de pessoa para pessoa e tocando em objetos contaminados.

Com isso, cidades inteiras como Wuhan já estão em quarentena, o que significa que seus cidadãos precisam ficar isolados em casa ou em hospitais. Os transportes públicos não estão em amplo funcionamento e, com isso, as atividades comerciais estão parcialmente paradas.

wuhan
Wuhan está no centro das maiores cidades chinesas. Fonte: Folha de São Paulo

Além disso, o governo prolongou o feriado de Ano Novo Chinês, mas muitas pessoas estão ficando em casa ao invés de viajar pelo mundo, o que já causa um impacto negativo sobre o turismo local e mundial.  

O vírus já está causando impacto sobre a economia global. Os chineses representam uma grande parte da demanda por bens, serviços e commodities. 

Caso esse problema se prolongue por mais tempo, os efeitos serão muito mais negativos, principalmente para países que são os principais parceiros comerciais dos chineses, como o Brasil.

Casos semelhantes: SARS e H1N1

No entanto, o caso de contágio por vírus não é novidade na Ásia. Nos anos 2000, os chineses também passaram por dois vírus: SARS (Síndrome respiratória aguda grave) e H1N1 (Gripe Suína). 

O SARS também é da família coronavírus, só que diferente desse novo vírus, ele é mais letal e menos contagioso. A epidemia do SARS aconteceu entre 2002 e 2003, infectando mais de 8.000 pessoas, com 800 mortes confirmadas, uma letalidade de 10%. 

O H1N1, que ficou conhecido como Influenza, talvez seja o mais lembrado por ter sido uma epidemia mais recente, que se transformou em pandemia após chegar em quase todos os países do mundo e matar 17 mil pessoas no ano de 2009. 

Muitos outros casos de doenças contagiosas já aconteceram no passado e mataram um número maior de pessoas, tais como Gripe Espanhola, Gripe de Hong Kong, Gripe Asiática e Gripe Russa. Mais recentemente, o mundo também se preocupou com Ebola, Flu, Zika Vírus e surtos de Cólera. 

Mas como o mercado de ações reage após esses eventos? Afinal, conforme foi dito acima, são inesperados e possuem um grande impacto sobre a economia se ganharem escala. 

Impactos econômicos de uma epidemia

No ano da epidemia do SARS, a China desacelerou 2% no crescimento econômico, sendo que naquele ano cresceu 10%. No geral, a economia global desacelerou 0,1%. A agência de risco S&P disse para a Reuters que espera uma desaceleração de 1,2% do PIB chinês.

Caso os efeitos fiquem mais agudos, a economia brasileira poderá sofrer. Afinal, a China é a maior importadora de produtos brasileiros, chegando a exportar 30% de nossos produtos em 2017.

Recentemente, os chineses provocaram um aumento no preço da carne brasileira ao importar grandes quantidades devido a um problema em seu rebanho de porcos.

Estima-se que o Brasil deverá crescer 2,5% no ano de 2020. Um agravamento do Coronavírus diminui essa perspectiva. No entanto, ainda é cedo para estimar os impactos, pois ainda é necessário entender a potencialidade do vírus.

Como reagiu o mercado de ações em casos semelhantes?

A empresa Charles Schwab fez um levantamento sobre como o mercado reagiu após problemas com surtos de doenças infectocontagiosas.

No geral, o mercado não costuma se importar muito com essas doenças. No entanto, é importante que ressaltar que cada caso é diferente e o impacto econômico sempre vai depender do tempo em que o vírus fica circulando e do grau de letalidade. 

EpidemiaComeçoMudança no S&P após 6 mesesMudança no S&P após 12 meses
HIV/AIDS06/1981-0.20-10.73
Peste Pulmonar09/19948.2226.31
SARS04/200314.5920.76
Gripe aviária06/200611.6618.36
Dengue09/20066.3614.29
Gripe Suína04/200918.7235.96
Cólera11/201013.955.63
MERS05/201310.7417.96
Ebola03/20145.3410.44
Rubéola12/20140.20-0.73
Zika01/201612.0317.45
Rubéola06/20199.82%N/A



Fonte: Dow Jones Dados de Mercado

A tabela acima mostra o começo de cada epidemia e a reação do índice S&P 500, o principal índice de ações dos Estados Unidos. 

Inicialmente o impacto pode ser sentido nos primeiros dias. Os analistas e traders ficam atentos a qualquer novidade, e o mercado sempre reage mal. Contudo, em uma janela de 6 meses a 1 ano, o efeito já é completamente esquecido e dissipado. 

O índice MSCI, que é uma espécie do mercado global de ações, também mostra o efeito de epidemias sobre a bolsa: quase nulo no médio prazo. 

coronavírus bolsa de valores
Fonte: Charles Schwab

Isso reforça a máxima de que os preços de empresas na bolsa de valores são reflexo de seus fundamentos (Lucro Líquido, Margens, Baixo endividamento, Dividendos) e do atual ciclo econômico (Expansão, Retração ou Consolidação). 

Como as bolsas reagiram após o Coronavírus?

No entanto, é preciso ressaltar que cada situação é diferente. O último vírus que mais causou transtorno foi o H1N1, mas o novo coronavírus já é mais contagioso do que ele. Caso esse vírus se espalhe ao redor do mundo, os impactos poderão ser diferentes dessa vez.

Além disso, essa epidemia veio em péssimo momento para a economia chinesa, que contribui mais para o PIB mundial do que 10 anos atrás. A China está com o crescimento econômico mais lento desde os anos 90.

Um lento crescimento econômico chinês impacta diretamente a economia mundial, principalmente parceiros comerciais como o Brasil.

O Ibovespa chegou a cair mais de 3,32% no primeiro dia de negociação após a notícia de epidemia. O S&P 500 teve uma queda menor, de 1,55%. O gráfico abaixo mostra a reação das principais bolsas do mundo no primeiro dia de negociação. No geral, todas apresentaram queda após o acontecimento.

bolsas de valores e coronavírus
As principais bolsas de valores do mundo. Fonte: TradingView

Ainda há muita coisa para acontecer. Os efeitos do coronavírus sobre os mercados e a economia ainda são impossíveis de prever. Afinal, os vírus tendem a apresentar mutações, desencadeando em novas características de contágio e letalidade. 

Ativos de proteção

Ativos de proteção se beneficiam de eventos do tipo “Cisne Negro”. O ouro chegou a subir 4,12% nas primeiras horas de negociação. O Bitcoin, que recentemente vem assumindo características de ativo de proteção, também subiu mais de 5%. No entanto, o ouro voltou a cair horas depois.

bitcoin coronavírus
Gráfico de preço do Bitcoin (Azul) e Ouro (Laranja); O ouro voltou a cair no decorrer do dia. Fonte: TradingView

Por isso, é importante diversificar o patrimônio em diferentes classes de ativos. Uma boa diversificação pode proteger sua carteira de investimentos de Cisnes Negros, mudanças nos ciclos econômicos e, em algumas situações, até gerar retorno financeiro. 

Total
1
Shares
Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts