Asset Light: É possível criar empresas sem capital?

Imagine que uma empresa deseja intensificar o ritmo do crescimento, para isso a organização identifica que será necessário investir uma grande quantidade de dinheiro para a sua expansão, no entanto, a quantia para o projeto seja concretizado a empresa não possui. Ao menos que a empresa consiga um financiamento junto ao mercado, seria o fim dos planos, correto?

Empresas como Uber e Apple discordam, tais empresas investiram em um modelo de negócio chamado “Asset Light”. Mas, afinal, o que é esse modelo de negócio e qual o seu impacto no mercado?

Negócios no modelo Asset Light

Existe uma premissa no mercado que todos aqueles que desejam começar um negócio devem possuir algum capital, para aqueles que não possuem, a única alternativa para efetiva abertura do negócio, seria a entrada de um ou mais investidores. No entanto, uma nova estratégia de negócio vem tomando o mercado, o Asset Light.

O termo pode ser traduzido como “leve em ativos”, ou seja, refere-se a essas empresas que mantêm poucos ativos. Dessa forma, a ideia principal da estratégia de negócios é fazer com que a empresa mantenha a menor quantidade possível de ativos, ou seja, apenas aqueles de fato são necessários para conduzir suas operações.

Além disso, o termo também pode ser utilizado quando nos referimos a situações onde uma empresa realiza empréstimos com pouca ou nenhuma garantia em ativos. Nesse caso, a capacidade de devolver o empréstimo é comprovada por seu histórico de crédito e através do seu fluxo de caixa, sem que haja uma alocação de bens em jogo para receber o capital.

Como funciona o Asset Light?

Uma empresa que funciona através do modelo Asset Light, necessita em primeiro lugar reduzir os seus bens e ativos, apenas deixando aqueles que são excepcionalmente necessários para a manutenção de suas operações.

A ideia de reduzir os ativos de uma empresa pode parecer estranha, mas a estratégia se tornou um advento dos novos negócios digitais que buscam por novas estratégias de eficiência.

O Asset Light prioriza a eficiência dos negócios, com objetivo de aumentar o valor ao longo do tempo, reduzindo seus custos operacionais e expandindo seus recursos exclusivos. Desse modo, o Asset Light propicia o crescimento mais rápido da empresa, como resultado, a organização tem a possibilidade de atingir um melhor retorno para seus investidores.

Exemplo de empresa Asset Light

Quando as empresas de transporte por aplicativo, como a Uber e 99, entraram no mercado, disputaram diretamente com as companhias de táxi.

O grande diferencial dessas empresas de transporte por aplicativo foi terceirizar duas importantes peças do projeto, o carro e o motorista. Desta forma, elas não possuem frota de carros e nem ativos humanos, o que elimina muitos custos e permite oferecer um serviço mais barato ao cliente, diferentemente de uma companhia de táxi que possui uma grande frota de carros e de motoristas.

Apple já operou através do modelo

O modelo Asset Light pode criar vantagens competitivas e fazer diferença no mercado, ao maximizar a rentabilidade sobre os ativos e reduzir a demanda por investimentos.

Um grande exemplo disso é a Apple, que em vários momentos da sua história apresentou uma baixíssima exposição de capital. No final da década de 1990, quando Tim Cook, então diretor de operações, terceirizou quase toda a produção e reduziu os estoques de cerca de um mês em 1996 para dois dias em 2000, a empresa iniciou sua trajetória no modelo  Asset Light.

Além disso, podemos observar certas características do modelo em seu balanço, tais como:

  •  Extenso caixa e grande capital de giro;
  • Menor taxa de giro de ativo total e taxa de giro de estoque, os dias de giro de estoque total da Apple foram mantidos em um nível baixo e seus dias de giro de estoque foram mantidos entre 5 e 7 dias. Em comparação com a Samsung, o giro de estoque leva mais de 50 dias; 
  • A proporção de ativos circulantes é alta e a proporção de ativos fixos é baixa, onde os ativos circulantes são principalmente caixa e equivalentes de caixa, portanto, a flexibilidade de liquidez é forte.
  • A relação dívida / ativo é baixa. O passivo de curto prazo da Apple tem se mantido estável em cerca de 30% do total de ativos, e a maioria deles são contas a pagar.

Ao longo da história, a Apple nos períodos de 2001 a 2011, raramente recebeu financiamento externo, sendo o financiamento interno seu maior “combustível” para expansão, por meio da conversão de capital próprio. 

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Seu modelo de financiamento interno tem como vantagem o baixo custo. Como resultado, o lucro interno não distribuído da empresa foi utilizado para aumentar o capital social, sem que houvesse a necessidade de pagar as taxas de corretagem e de contabilidade incorridas pelo uso de financiamento externo. 

Importante também frisar que durante o mesmo período, a gigante da tecnologia nunca emitiu dividendos. Dessa forma, parte dos recursos foi utilizada principalmente para financiamento endógeno, permitindo que a Apple economize anualmente cerca de US $1 bilhão em impostos.

Dessa forma, a empresa valorizou mais o acesso, do que o uso e a capacidade lucrativa dos bens necessários. Alcançando o máximo em construção de marca, projetando uma loja de experiência off-line e fazendo com que quase todos os produtos da Apple fidelizem mais fãs.

Hoje em dia, a Apple se tornou um sinônimo de tecnologia, e a habilidade de cultivo intensivo fez da Apple uma obra de arte, com moda e personalidade. Mostrando ser possível sim, construir um negócio com pouco ou até mesmo nenhum capital, bem como investir em negócios que não precisam de capital para manter a sua operação funcionando bem.

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É claro que alguns negócios, inevitavelmente, demandam mais capital. Exemplo claro dessa situação foi da Lego descobriu, quando terceiriza a fabricação de seus brinquedos de alta margem para a Flextronics em 2005. 

A Lego precisava de produtos de alta qualidade em quantidades que não podiam ser previstas com muita antecedência. Essa necessidade entrava em conflito com os incentivos que estava oferecendo à Flextronics para manter os custos baixos. Por essa razão a Lego encerrou a parceria em 2008.

Desse modo, constatamos que o sucesso do modelo Asset Light depende da saúde dos parceiros fornecedores por trás dele e de sua disposição para investir, se adaptar e lidar com questões inesperadas. Para tal, há a exigência de incentivos compartilhados, apoiados por comportamentos não oportunistas que fomentem a colaboração em vez do conflito. 

Asset Light e a terceirização 

Um dos grandes princípios no qual uma empresa asset light trabalha é a terceirização. Tal escolha possui uma justificativa plausível, a eliminação de uma série de custos operacionais e estruturais em uma empresa. 

Por conta disso, ao invés de possuir uma grande quantidade de ativos fixos e próprios, que se traduzem em mais custos para o negócio. No modelo Asset Light, a companhia adquire um produto ou um serviço pronto e funcionando, ao invés de arcar com custos de manutenção e treinamento do corpo de funcionários, podendo assim priorizar sua atividade final. 

Conclusão 

Os modelos Asset Light podem auxiliar as empresas a alcançar escala sem ter que investir capital. Além disso, ajuda as grandes empresas, evitando deseconomias em escala, que surgem por possuir pequenas lojas em muitos locais. 

Desse modo, por exemplo, é muito mais eficiente para uma empresa de telefonia móvel franquear seus pequenos pontos de venda do que operar milhares de pequenas lojas. 

Em muitos casos, participar do modelo Asset Light pode ser a escolha certa, especialmente porque as empresas podem melhorar seus retornos, tornar-se mais ágeis, capitalizar na escala e na experiência de seus fornecedores e redistribuir suas operações mais rapidamente, vantagens que são cada vez mais importantes na economia global.

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