A cotação do Dólar vai cair em 2021?

A cotação do dólar no Brasil passou por uma alta muito intensa durante todo o ano de 2020 frente ao Real brasileiro e acabou se tornando um dos melhores investimentos que se poderia fazer, mesmo no cenário de pandemia e recessão econômica, inclusive nos EUA. A questão agora é: o dólar vai cair em 2021?

Para entender o motivo pelo qual o dólar tem caído tanto nos últimos 50 dias, é preciso entender primeiro o porquê dele ter primeiramente subido tanto nesse último ano de 2020, e os motivos que englobam isso, acabam tendo grande relação com a própria desvalorização ocorrida tempos depois.

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Diversos motivos colaboraram não só para que o dólar tivesse uma valorização importante frente ao real, mas que também a própria moeda brasileira fosse uma das moedas que se destacaram em sua desvalorização durante esse ano, comparado às demais.

A maior parte dos motivos que levaram à alta do dólar, se deu principalmente pela grande fuga de capital estrangeiro de dentro do país, ou seja, os investidores estrangeiros tiraram grandes volumes de dinheiro dos investimentos nacionais e dessa forma, o dólar disparou frente ao real.

O real acabou sendo até outubro deste ano a moeda que mais se desvalorizou em comparação com o dólar em 2020. A moeda norte-americana teve uma valorização de quase 47% durante o ano até atingir sua máxima em meados de maio, que são números muito relevantes frente ao cenário que vivíamos anteriormente a pandemia.

Cotação do dólar em 2020

cotação do dólar
Fonte: TradingView

Mas por que o Brasil teve uma desvalorização tão grande de sua moeda frente ao dólar? Afinal, entender a fuga de capital estrangeiro no país pode fazer com que possamos entender inclusive o motivo pelo qual estamos passando por uma queda considerável da moeda americana no nosso país nos últimos 50 dias.

A pandemia acabou prejudicando muito o cenário econômico do Brasil e dos demais países emergentes durante o ano de 2020, e assim, passaram a ser um investimento com um grau maior de risco em comparação com o cenário anteriormente visto.

Sendo assim, os investidores tiraram grande parte de seu capital do Brasil e colocaram em moedas e outros ativos que pudessem trazer uma proteção maior ao seu dinheiro, além de investir em economias em que há uma chance menor de uma recessão, para que assim, eles tivessem uma maior tranquilidade em relação ao seu dinheiro investido.

Foi assim que os países emergentes tiveram uma desvalorização relevante em suas moedas, em especial a do Brasil, que teve alguns fatores extras para se tornar uma das que tiveram o pior desempenho.

O aumento dos riscos fiscais, aliado a episódios de instabilidade política, além de ter sido um dos países com maior número de casos e de mortes relacionados à pandemia, fizeram com que o Brasil tivesse um desempenho ainda pior que os demais países em desenvolvimento.

Além disso, as próprias instabilidades políticas aos quais foram citadas aqui, colaboraram para que as reformas e as privatizações prometidas por parte do governo acabaram não fluindo, de modo que despertasse no investidor estrangeiro uma certa desconfiança e perda de credibilidade no Brasil.

Outro ponto bastante relevante é que os juros no Brasil acabaram sendo os mais baixos da história do país, isso faz com que os investidores que tinham interesse em investir em países que têm um crescimento interessante, uma política relevante instável e ainda poder lucrar bem por conta de taxas de juros mais elevadas, acabaram deixando o país em busca de oportunidades melhores para conseguir rentabilizar seu dinheiro.

A taxa de juros no Brasil estava em 2015 em cerca de 14,25% e acabou caindo para sua baixa histórica de 2%, ao qual se mantém até mesmo nos dias de hoje, mesmo depois de atingir esta mínima. O aumento da dívida brasileira também foi um fator fundamental para que o mercado estrangeiro perdesse a confiança de que investir no Brasil seria algo totalmente seguro.

A reversão do dólar nos meses de novembro e dezembro

Desde o dia 29 de outubro, data no qual o dólar atingia o patamar de aproximadamente R$5,78, a moeda americana começou a ter seguidas quedas, até atingir o patamar dos R$5,02 no dia 10 de dezembro, uma queda de aproximadamente 13% em 42 dias.

dólar vai cair em 2021
Fonte: TradingView

Durante os demais dias do mês de dezembro, pelo menos até a data em que se escreve este artigo (22), o dólar varia entre o valor mínimo dito anteriormente até aproximadamente os R$5,12, como vemos no gráfico anterior.

Mas o que explica essa reversão no preço do dólar de forma rápida em relação ao real? Obviamente que não é a primeira e nem será a última grande variação no preço do dólar durante algum período. Entretanto, entender o motivo dessa queda, pode fazer com que o leitor entenda alguns pontos importantes dessa dinâmica de preço, de modo que possa pensar melhor a respeito das próximas vezes em que isso ocorrer.

Afinal, o que leva o dólar a cair de forma intensa durante este final de ano? A resposta mais óbvia é justamente que há mais pessoas vendendo dólar e comprando real em comparação com os períodos anteriores a queda.

De forma mais explicativa, alguns fatores levaram o investidor estrangeiro a investir novamente no Brasil, de modo que a própria bolsa de valores acabou deslanchando novamente aos patamares pré-pandemia.

O fato é que o real foi uma das moedas mais desvalorizadas e com um dos piores desempenhos frente ao dólar no ano, que começou o ano na cotação de R$4,02 e atingiu a máxima de R$5,90 em maio.

Segundo um ranking feito pela Fundação Getúlio Vargas, o real teve o pior desempenho considerando 30 moedas em 2020 até o mês de novembro, incluindo por exemplo, uma comparação com a lira turca, o rublo russo e o peso mexicano, que foram outras moedas desvalorizadas. As 10 moedas mais desvalorizadas do estudo, podem ser vistas a seguir:

dólar vai cair em 2021

O fato é que o Brasil, por todos os fatores pelos quais já citamos aqui, mas também por ser um dos países com maior número de mortes na pandemia, acabou fazendo com que sua moeda acabasse ainda mais castigada que as demais dos países emergentes.

Sendo assim, quando surgiram as notícias relacionadas ao término de estudos com resultados de eficiência importantes para vacinas que pudessem imunizar a população mundial, o mercado voltou a ter uma certa confiança em investir no Brasil novamente, o que colaborou para uma entrada intensa de capital estrangeiro no país no mês de novembro.

Isso foi facilitado com o desempenho pífio da moeda brasileira que acabamos de citar durante todo o ano, já que com o barateamento do real para a compra dos estrangeiros, a bolsa de valores e os ativos brasileiros ficaram praticamente em liquidação.

Aproveitando esse momento de esperanças para um retorno econômico para o pós-pandemia, atrelado ao preço barato das ações brasileiras, os investidores estrangeiros ingressaram com R$31 bilhões no país novamente só no mês de novembro.

dólar vai cair em 2021

No gráfico anterior, com fonte de informações da Economatica & Bloomberg, cada barra azul representa o saldo mensal de fluxo de capital estrangeiro na B3, de modo que, iniciando da esquerda para a direita temos o saldo, mês a mês, começando em novembro de 2019 e terminando em novembro de 2020, onde tivemos a maior entrada de capital estrangeiro mensal no ano, com R$31 bilhões.

O dólar vai continuar caindo em 2021? 

É uma pergunta que muitas pessoas gostam de fazer a todo momento, se o dólar vai subir ou cair daqui a algum tempo. O fato é que a economia é feita de fatos imprevisíveis muitas das vezes, como pudemos ver durante a pandemia, ninguém esperava nada do tipo em 2019 e nenhuma estimativa previa o dólar a R$5,90.

Sendo assim, se você ver por aí qualquer tipo de afirmação a respeito do dólar para 2021, tome muito cuidado. Diversos especialistas analisam os preços para o futuro através de estimativas, de acordo com o cenário atual, aliado a expectativa para o mercado no futuro próximo.

Mas nenhuma dessas estimativas são respostas concretas do que realmente vai ocorrer, já que ninguém de fato sabe o que vai acontecer daqui pra frente. Principalmente neste momento, em que já se liga algum sinal de alerta para possíveis mutações do vírus responsável pela pandemia atual, o que não necessariamente significa alguma outra nova pandemia.

O mercado vive de momentos e de expectativas, então ter uma nova mutação do vírus não significa mais uma pandemia ou algo parecido ao que se teve anteriormente, até que os próprios órgãos de saúde nacionais e internacionais nos deem essas informações de forma oficial.

Mas o fato é que o humor do mercado trabalha muito mais de forma especulativa, sendo assim, a chegada de algum viés pessimista de perspectiva futuro ou até mesmo incertezas em relação a isso, faz com que o próprio investidor tenha mais cautela nos investimentos de maior risco, e o Brasil, por sua vez, já acaba sendo uma das últimas opções de investimento do mercado internacional, é sim um mercado de um risco um pouco mais elevado.

Levando em conta todas essas ressalvas, podemos trazer uma ideia de que a maior probabilidade para o momento é de que com a melhora e a redução dos problemas relacionados a pandemia, com prazos para variação e atrelado a agenda de reformas prometida pelo governo brasileiro para 2021, traz um viés um pouco mais positivo de que haja pelo menos uma estabilidade maior na economia, se não uma melhora.

Segundo Samuel Castro, que é o estrategista de câmbio e juros para a América Latina do banco francês BNP Paribas: “O real ainda tem muito espaço para se apreciar e estamos muito otimistas para o cenário no ano que vem, quando esperamos que moeda chegue a 4,25 reais”, disse de forma otimista em uma consulta à EXAME Invest.

Esse aumento de otimismo, embora ainda com muitos receios, traz uma possibilidade maior de que o dólar possa ter uma certa estabilidade e depois quem sabe uma continuação de sua queda para o ano que vem, o que pode mudar, conforme os fatos relevantes do mercado forem acontecendo ou a própria agenda de reformas acabe não vingando.

Conclusão

Entender a dinâmica e os fatos que fazem com que o dólar tenha obtido tanto uma valorização recorde na história frente ao real este ano, quanto também a própria queda vista nos últimos dias é muito importante para entender também como funciona o cenário político e econômico no Brasil.

Esses conceitos nos tornam mais aptos a construir uma estimativa de tendência para a moeda americana para o ano que vem ou quem sabe para um futuro um pouco mais longínquo, de modo que se possa ter uma melhor visualização de onde se deve investir com mais probabilidade de acerto.

Afinal, não estamos tratando apenas de investimento diretamente em dólar aqui, mas também levando em conta que o fluxo de capital estrangeiro dentro da bolsa de valores brasileira tem um papel fundamental para o aumento da liquidez na mesma, assim como na valorização dos ativos do Brasil, e o preço do dólar acaba sendo um dos termômetros para esse fluxo de capital estrangeiro no nosso país.

Se como dissemos, não há uma resposta pronta e com 100% de certeza a respeito do futuro do dólar, saber mais profundamente tudo que possa variar o seu preço daqui pra frente, pode trazer ferramentas fundamentais para se ter estimativas mais assertivas a respeito e colaborar para um maior entendimento do cenário macroeconômico.

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