Entenda os perigos ocultos do vício em criptomoedas

Se você já se pegou abrindo carteiras de criptomoedas e verificando freneticamente o preço das moedas digitais a cada meia hora, saiba que a sensação pode ser muito mais complexa do que simplesmente de acordar como um multimilionário. 

Assim como muitos aspectos viciantes em nossas vidas, a negociação de criptomoedas compartilha muitas de suas características com os demais vícios mundanos, onde as pessoas arriscam todo o seu dinheiro, seus fundos de aposentadoria, aluguel e financiamentos.

De acordo com especialistas, os usuários de criptomoedas podem ser fisgados pela flutuação volátil dos preços online, que cria uma “alta” quando compram ou negociam uma moeda vencedora. Tal situação pode ser emocionante, mas também viciante e, como o vício do jogo, pode ser financeiramente desastroso.

Pensando nisso, a Escócia se tornou o primeiro país do mundo a abrir um centro de reabilitação, chamado Castle Craig, para aqueles que lutam contra o vício do comércio de criptomoedas.

O vício em criptomoedas  

A negociação de moedas digitais pode se tornar um vício comportamental, onde alguns usuários seguem obsessivamente as flutuações de preços, minuto a minuto. No entanto, o vício em criptomoedas pode levar a um caminho ainda mais sombrio. 

Iremos relatar o caso de um britânico, que foi encaminhado para um dos únicos hospitais no Reino Unido que trata pessoas obcecadas por apostar em criptomoedas e que compartilhou sua história de como seu vício em o transformou em um criminoso, chegando a ser processado criminalmente. 

O britânico, que irá adotar o pseudônimo de Jake, perdeu mais de um milhão de dólares do dinheiro de outras pessoas tentando duplicar seu sucesso anterior negociando criptomoedas.

Essa história se inicia lá em 2015, quando Jake comprou Bitcoin pela primeira vez. O mesmo relata que, olhando para trás, consegue identificar o momento exato em que a negociação de criptoativos se tornou um problema. Segundo ele, o mesmo já estava se desfazendo de um quantitativo de dinheiro que havia guardado por um bom tempo, de modo a entrar na operação, que para ele, seria o grande salto da sua vida. 

A operação criada por Jake não foi efetiva, no entanto, suas perdas foram recuperadas integralmente, o que lhe forneceu sensação de absoluta euforia, ou seja, um sentimento de ser imbatível. Esse sentimento de euforia, aliado a problemas em seu casamento e vida pessoal, rapidamente o transformou em um viciado em criptoativos.

A influência das criptomoedas na vida de “Jake”

Até então, Jake trabalhava em um emprego no qual era responsável por milhões de libras do dinheiro de outras pessoas. Após não conseguir controlar seus impulsos, ele logo começou a negociar com o dinheiro dos clientes na esperança de duplicar seu sucesso anterior na negociação de criptomoedas

Ele compartilhou: “A primeira vez que peguei, perdi tudo em cerca de 20 minutos uma noite. O mercado mudou muito rapidamente e eu liquidei tudo. ”

Como resultado, Jake enfrentou acusações criminais por peculato, mas foi capaz de devolver 1,5 milhão de libras ao empregador com a ajuda de sua família. Atualmente, ele está em tratamento para seu vício.

“Jake”não é um caso isolado

Como tantos outros jovens, Alexander E. Kearns, estudante de 20 anos da Universidade de Nebraska, começou a investir durante a pandemia, se inscrevendo na corretora Robinhood, que oferece negociações sem comissões, um aplicativo móvel divertido e fácil de usar.

Kearns começou a experimentar, negociar opções. No entanto, o jovem aparentemente caiu em desespero  depois de olhar para sua conta Robinhood, que parecia ter US $16.000, mas também mostrava um saldo de caixa de US $730.165 negativos. Conforme o seu histórico de negociação, Alex recebeu um e-mail exigindo ação imediata pedindo um depósito mínimo de mais de US $170.000 e, quando o estudante universitário tentou entrar em contato com o atendimento ao cliente, não teve sucesso.

Além disso, o jovem encaminhou emails para a corretora “Recebi incorretamente mais dinheiro do que deveria, minhas opções de venda deveriam cobrir as opções de venda que vendi. Alguém poderia dar uma olhada nisso?”. Entretanto, tudo o que ele recebeu foi um e-mail automático dizendo que a equipe de suporte entraria em contato com ele “o mais rápido possível, mas que nosso tempo de resposta poderá demorar”.

Crendo ter arruinado sua vida, com uma dívida gigantesca,  Kearns cometeu suicídio, se jogando na frente de um trem em Plainfield, Illinois. Tragicamente, um dia depois de Alex se suicidar, Robinhood finalmente retornou seu e-mail, e descobriu-se que ele não devia dinheiro algum. “Boas notícias!” dizia o assunto do o e-mail.

No e-mail, havia a seguinte mensagem: “Estamos entrando em contato para confirmar que você atendeu à sua chamada de margem e suspendemos suas restrições comerciais. Se você tiver alguma dúvida sobre a sua chamada de margem, sinta-se à vontade para entrar em contato. Estamos felizes em ajudar!”

Busca por ajuda cresce 

De acordo com Tony Marini, o comércio de criptomoedas é uma forma das pessoas escaparem de si mesmas, para outro mundo, porque não gostam do mundo em que estão. A primeira etapa do tratamento é juntar-se a outros viciados na terapia de grupo e compartilhar suas histórias de vida. Isso as ajuda a se identificar e perceber que não estão sozinhos.

Em suma, não há estatísticas sobre o número de pessoas com um forte vício em negociação de criptomoedas. No entanto, Tony Marini, o principal conselheiro da clínica de dependência no hospital Castle Craig em Peebles, disse que estão vendo um número crescente de indivíduos viciados na Escócia. Nos últimos anos, a clínica tratou mais de 100 pessoas com dependência de criptomoedas.

Lado posto

Embora haja pessoas que perderam dinheiro negociando criptomoedas, também há aqueles que juram que os ativos digitais os salvaram da ruína financeira, principalmente durante a pandemia do coronavírus.

Uma dessa pessoas é Cameron, um músico freelance que foi gravemente atingido pela crise da Covid-19. Para Cameron a situação que ele se encontrava era devastadora, tendo em vista que as festas foram proibidas, as escolas fecharam e todas as suas principais fontes de renda desapareceram completamente.

Em meio a um bloqueio criativo, o músico decidiu investir em criptomoeda no início de março do ano passado. Segundo ele “Tem sido um ano muito bom com esses ativos aumentando de valor a ponto de, pelo menos no curto prazo, não ter nenhuma preocupação financeira … Foi um alívio tão grande”.

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