Entenda os motivos da queda do dólar em 2021

Após forte desvalorização no ano de 2020, o que até então parecia improvável, ocorreu. O real voltou a se destacar entre as moedas emergentes e principalmente contra o dólar. Após ficar em sexto lugar ano passado entre as moedas que mais se desvalorizaram no mundo, o real finalmente ganhou força.

Com isso, o dólar chegou a valer quase $6,00 em março. No entanto, hoje já está em um patamar próximo dos 5R$, mas afinal de contas o que mudou de lá para cá. Quais foram os eventos que modificaram essa tendência e fizeram nosso câmbio valorizar. Saindo do posto de uma das moedas mais fracas em 2020. Para condição de uma das mais fortes frente ao dólar em 2021.

Com esse questionamento em mente, no artigo de hoje, iremos discutir como chegamos nesse cenário. Além disso, quais fatores contribuíram para esse câmbio mais forte em 2021 e também o impacto dessas variações cambiais em empresas que possuem receita dolarizada.

Movimentos do dólar durante a pandemia

Como mencionado, em 2020 a cotação da moeda americana frente ao real disparou. Assim, o dólar chegou a valorizar cerca de 29,3% frente ao real no ano passado. Esse movimento ocorreu devido a diversos fatores que serão explicados a seguir.

Primeiramente as contas públicas vinham se deteriorando, o que causou desconfianças por parte do investidor estrangeiro. Além disso, um fator fundamental nesse processo foi a forte queda nas taxas de juros, elevados ao menor patamar histórico do país.

Dessa forma, esse movimento vinha se consolidando até o início de 2021, quando o Banco central encerrou então o fim do ciclo de baixa nos juros. Elevando a Selic nas 3 reuniões seguintes.

Motivos que levaram a mudança de cenário

dólar

Nesse sentido, o Banco Central encerrou um ciclo de 5 anos de cortes. Sua primeira alta foi em março quando saiu de 2% para 2,75% ,em seguida houve um novo aumento de 0,75 pontos base em maio. Deixando-a em 3,5% e por último na última reunião realizada dia (16), a taxa ficou em 4,25% . Além disso, a postura demonstrada pelo Copom (Comitê de Política monetária) foi no sentido de que fará o necessário para trazer a inflação para dentro da meta.

Com isso, algumas casas importantes como a XP reviram suas projeções, acreditando que as próximas altas na Selic serão maiores que o inicialmente esperado. A corretora elevou sua previsão de 6,50% da Selic para o final de 2021, para 6,75%.

Com juros mais altos, o investidor estrangeiro se sente mais atraído para colocar seus dólares por aqui. Quanto maior a diferença de juros entre outros países e o Brasil, mais interessante fica colocar parte dos seus investimentos por aqui e surfar essa onda de alta nos juros.

Além disso, com o super ciclo de commodities acontecendo, a conta corrente do país está bastante positiva. Apresentando em abril o melhor saldo da história já registrado. Algo em torno de US $13 bilhões.

Isso se deve principalmente à valorização de grãos, celulose, papel e o minério de ferro que está próximo de US $200 a tonelada, um recorde. A China está retomando seu crescimento econômico, importando cada vez mais esses produtos do Brasil, o que contribui para a entrada de dólares.

O que ocorre com as empresas exportadoras?

Em um cenário de valorização cambial, as empresas que possuem forte receita em dólar tendem a sofrerem desvalorização. Em outras palavras, caso continuemos com essa perspectiva de recuperação da moeda. É provável que empresas como Suzano (SA:SUZB3), Klabin (SA:KLBN11), BRF(SA:BRFS3) entre outras sofram quedas em suas receitas.

No entanto, aquelas empresas que importam insumos ou possuem custos e dívidas atreladas ao dólar, tendem a se beneficiar com esse movimento de alta do real perante ao dólar. Empresas como (SA:AZUL) e (SA:GOLL4), por exemplo, podem se beneficiar bastante nesse cenário.

Cenários possíveis para o dólar

O relatório do Boletim Focus, divulgado na manhã de hoje (28), pelo Banco Central, mostrou que a cotação do dólar deve se manter estável ao longo de 2021. A mediana das expectativas para o câmbio no fim do período ficou em R$ 5,10. Redução de 20 centavos em relação ao mês anterior. Para 2022 a projeção segue de R$ 5,20.

Contudo, existem questões que podem atrapalhar esse movimento de queda. Isso, pois ainda há muitas incertezas rondando o país. Principalmente relacionadas ao fator político. Nesse sentido, a dívida pública vem em uma crescente e quanto maior a dívida pública, maior o prêmio de risco exigido pelos investidores. Dado que se eleva a possibilidade de não cumprimento do governo com seus compromissos financeiros.

Ou seja, ainda que os juros estejam em um patamar interessante, como exposto acima. Caso haja sinalização de afrouxo por parte do governo com o controle das contas públicas. O Investidor estrangeiro, deve simplesmente ir embora.

Além disso, ainda que o Banco Central tenha agido aumentando as taxas de juros, se a inflação permanecer fora do controle, os agentes de mercado elevam suas expectativas de aumento inflacionário, o que tende a assustar os mercados no curto prazo.

Por fim, a provável subida de juros americanos também se torna um fator de risco. Dado que isso pode atrair investidores a colocarem suas fichas no mercado americano. Com isso, tirando o dinheiro dos mercados emergentes como o Brasil.

Veja também: Ibovespa bate novo recorde e dólar atinge menor cotação de 2021

Conclusão

De maneira geral, podemos dizer que a maioria dos fatores citados no artigo, favorece a uma continuidade da apreciação do real. No entanto, como exposto acima, alguns fatores precisam ser monitorados com cautela.

Principalmente questões políticas e fiscais. Ou seja, algum acontecimento de natureza política ou fiscal pode deixar os agentes de mercado mais preocupados. O que deve fazer com que investidores percam a confiança no País.

Além disso, o leitor deve se lembrar que ano que vem (2022) é um ano eleitoral. O que costuma ser um convite ao governo vigente a gastar mais que o necessário. Buscando melhorar sua imagem perante ao eleitorado.

Daí a necessidade de o investidor estar atento ao ambiente macro, considerando sempre a oportunidade em diversificar sua carteira em ativos atrelados ao dólar. Dado que essa é uma maneira interessante de se proteger contra eventuais choques e surpresas.

Veja também: As consequências da alta dos juros no mundo

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