Conheça os indicadores de endividamento

Imagine que você decida investir em uma empresa e descubra que, no ano, ela obteve um faturamento de 100 milhões. O que isso quer dizer? A resposta é: nada! Isso porque não há informações suficientes para sabermos se esse valor foi capaz de dar continuidade às operações e quitar eventuais dívidas.   

Por exemplo, um negócio pode ter uma receita de 100 milhões de reais e despesas de até R$200 milhões de reais. Assim, ao que tudo indica, a companhia estaria em um déficit operacional e, posteriormente, precisaria se endividar.

Dito isso, muito mais importante do que descobrir o faturamento, é fundamental que o investidor saiba sobre a saúde financeira do negócio. Afinal, empresas com uma gestão financeira saudável, tendem a se manter competitivas no mercado e crescer de forma sustentável. 

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Os indicadores de endividamento

Para realizarmos uma análise mais aprofundada, os indicadores de endividamento são os melhores aliados para avaliarmos o andamento de um negócio, possibilitando que o investidor saiba se o trabalho da companhia está sendo bem feito ou se a empresa está passando por um período complicado financeiramente.

A função dos indicadores de endividamento é medir quanto uma empresa possui de dívida sobre o valor de patrimônio e ativos. É através dos indicadores de endividamento que podemos entender a real situação financeira da empresa, e a partir disso, facilitar na nossa tomada de decisão e elaboração de estratégias conscientes de investimentos. 

No entanto, antes de nos aprofundarmos nos indicadores, é preciso fazer uma ressalva, o endividamento saudável agrega valor ao negócio e não ao prejuízo do mesmo. Empresas com boas gestões financeiras se utilizam de empréstimos de curto, médio ou longo prazo, para melhorar a estrutura do seu negócio, comprar novos equipamentos, realizar melhorias, entre tantas outras possibilidades. 

Principais indicadores de endividamento

Sabemos que é de elevada importância entender a situação financeira das empresas que pretendemos investir. Para isso, é necessário que saibamos compreender o seu grau de endividamento, calcular sua geração de dívidas e mensurar os recursos de terceiros ou dos proprietários que podem estar sendo utilizados para alavancar o negócio. 

Assim, para que possamos analisar todas essas métricas, necessitamos dos indicadores de endividamento adequados. Os principais indicadores para medir o grau de endividamento de uma empresa são:

Margem Líquida

É a capacidade da empresa gerar lucro quando comparada à receita líquida que ela teve no período. Ou seja, trata-se do percentual do lucro líquido, já deduzido de todos os impostos. Fornecendo um indicativo de quanto está sendo a margem de resultados da empresa. O valor é encontrado por meio da divisão do lucro líquido pelas vendas, multiplicado por 100.

Seu principal objetivo é colaborar para que o empreendedor compreenda se os custos da empresa estão elevados. 

Quanto mais alto estiver o indicador, maior será a preparação da empresa para períodos em que a receita estiver baixa. Do contrário, empresas que estejam com uma margem muito baixa, encontram-se expostas aos prejuízos em qualquer variação positiva ou negativa de despesas e receitas.

Em resumo, a margem líquida indica vantagens competitivas, boa gestão operacional e maior segurança em momentos de crise. 

O cálculo da Margem Líquida é realizado através da seguinte fórmula:

Margem de Líquida = (Lucro Líquido / Receita Líquida) x 100

Exemplificando:

Supondo que uma determinada empresa possui Receita Líquida de R$145 milhões e Lucro Líquido de R$30 milhões, temos:

ML = (30 / 145) x 100 = 20,7% de Margem Líquida.

Nesse caso, é possível concluir que a empresa possui um excelente potencial de lucratividade com suas operações. 

É importante ressaltar que este indicador somente será efetivo se levarmos os resultados de meses ou anos anteriores em conta. Além disso, deve-se levar em conta que a utilização deste indicador deve ser limitada entre empresas do mesmo setor, já que em alguns setores o resultado da Margem Líquida tende a ser mais baixo ou mais alto que em outros.

Liquidez Corrente

A liquidez corrente busca obter a razão entre o ativo circulante da companhia pelo passivo circulante. Ou seja, indica a capacidade de pagamento de uma companhia. Podendo atingir as seguintes variáveis: 

O resultado é maior a 1, significa que a empresa possui o capital de giro para trabalhar, com boa capacidade de pagamento.

O resultado é igual a 1, significa que o capital da empresa e seus pagamentos estão proporcionais.

O resultado é menor que 1, significa que a empresa não possui capital suficiente para arcar com todas as suas obrigações.

O cálculo da liquidez corrente é realizado através da seguinte fórmula:

Liquidez corrente =    Ativo circulante / Passivo circulante

Exemplificando: 

Caso o ativo circulante (direitos) seja R$ 145 milhões e o passivo circulante (deveres) for R$ 30 milhões, significa que a liquidez corrente é de 145÷30 = 4,83.

Nesse caso, é possível concluir que a empresa possui capital disponível suficiente para arcar com todas as suas obrigações.

É importante destacar que a liquidez corrente não é um indicador que deva ser utilizado isoladamente, visto que, para verificar a liquidez de uma empresa, é necessário acompanhar informações de balanço, tornando-se, assim, um indicador que pode apresentar resultados diferentes, de acordo com o momento utilizado.

Dívida Líquida/Ebitda

O indicador está relacionado ao endividamento da empresa, mostrando também o número de anos que a empresa levaria para pagar sua dívida líquida no cenário em que o EBITDA permanece constante.

O resultado da Dívida Líquida/EBITDA é considerado alto quando está entre 4x e 5x, significando que a empresa tem dificuldades para cumprir com suas obrigações financeiras, o que pode gerar um aumento crescente no endividamento e interrupção no crescimento do negócio.

EBTIDA: entenda a importância deste indicador

Por outro lado, indicadores entre 1x a 2x, são considerados mais saudáveis indicando uma boa gestão financeira. Empresas desse tipo são consideradas como resilientes em momentos de crise, por mostrarem que são geradoras de caixa, isto é, são empresas que possuem segurança.

O cálculo da Dívida Líquida/EBITDA é retirado diretamente dos relatórios financeiros disponibilizados pelas empresas. Onde o seu resultado do cálculo é expresso em “vezes”, por exemplo “2x”, “3x” ou “4x”.

Exemplificando:

Uma empresa “X” possui uma Dívida Líquida de R$145 milhões e tem um EBITDA, em 12 meses, de R$125 milhões. A conta resulta em 1,16x, o que nos permite identificar que a empresa conseguiria pagar todos os seus débitos em menos de 2 anos.

É importante destacar que a Dívida Líquida/EBITDA deve ser utilizada para fins comparativos, apenas entre negócios do mesmo setor de atuação. Além disso, é necessário entender o contexto da geração de dívida da empresa, pode ser benéfica no caso de aquisição de ativos estratégicos, mas se for para cobrir ineficiências operacionais é um mau negócio. 

Dívida Líquida/Patrimônio Líquido

A Dívida Líquida/Patrimônio Líquido é calculada através da divisão entre a soma do endividamento de uma empresa e o total de bens e direitos que ela possui. Seu principal objetivo é avaliar o quanto um negócio utiliza de capital de terceiros para financiar suas atividades em relação ao patrimônio dos seus acionistas.

Ou seja, a dívida líquida/patrimônio busca entender como a empresa está se financiando (por meio de dívida ou recursos próprios) para se desenvolver no mercado e questiona se o patrimônio líquido da empresa será capaz de cobrir o valor das dívidas em caso de falência.

Por essa razão, o indicador incorpora também o grau de risco, tendo em vista que, quanto maior o indicador, mais alavancada a empresa está representando um elevado grau risco para os seus investidores. Por outro lado, quanto menor for o resultado da Dívida Líquida/Patrimônio Líquido, maior é o sinal de que a empresa é saudável financeiramente.

Exemplificando:

Uma empresa fechou o ano com uma dívida líquida de R$30 milhões e possui um patrimônio líquido de R$62 milhões, com isso, basta dividir e chegaremos ao resultado de 48,38%, que representa a porcentagem na qual a empresa está devendo do seu patrimônio líquido.

No exemplo, caso uma empresa decida financiar as suas operações com capital de terceiros e essa estratégia seja assertiva, os lucros serão suficientes para pagar os juros dessa dívida e gerar valor ao acionista. Caso contrário, se o custo da dívida superar os retornos, a companhia estará destruindo valor para os seus acionistas.

É importante frisar que não há um consenso sobre o valor aceitável para a Dívida Líquida/Patrimônio Líquido, isso porque determinados modelos de negócio demandam diferentes estruturas de capital para realizar suas operações, sendo assim, um índice de endividamento que pode ser alto para uma empresa, pode ser baixo para outra.

Portanto, a análise deve ser feita em conjunto com outros indicadores financeiros.

Conclusão

Lembre-se que a diferença entre o remédio e a veneno é a dose. O mesmo vale para o endividamento das empresas listadas na bolsa.

Conhecer, empregar e interpretar em suas análises os indicadores de endividamento de uma empresa, facilita as decisões de investimento, antes de comprar ou vender ações.

Isoladamente estes indicadores podem apresentar resultados inconclusivos, no entanto, ao combinar a aplicação dos demais, podemos compor um diagnóstico seguro e preciso a respeito da saúde financeira do negócio. 

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