A inflação está chegando

Inflation Is Coming – em tradução livre: A inflação está chegando

Texto escrito por BitMEX Research, em 17 de março de 2020

Publicado originalmente em inglês em BitMex

Confira nossa tradução livre:

Resumo: Nós avaliamos o impacto do Coronavírus na economia e nos mercados financeiros. A resposta dos mercados para o vírus marcará uma mudança significativa no regime econômico, desde políticas monetárias a expansão fiscal financiada pelo banco central. 

Eventualmente, teremos um ganhador nesse novo regime: a inflação. As circunstâncias econômicas podem parecer com as dos anos 70, com expectativas inflacionárias voláteis. Essa mudança e a inflação não serão facilmente toleradas pelos mercados financeiros. 

Neste ambiente, o Bitcoin pode ter uma grande oportunidade, mesmo sendo um ativo bem novo. 

inflação está chegando
“Inflation is coming”- imagem retirada do texto original em BitMex

A crise no mercado causada pelo Coronavírus

A queda do mercado causada pelo Coronavírus em 2020 se consolidou como uma das maiores quedas do mercado de ações, junto com: 

  • Crise Global (2008);
  • Pontocom (2000);
  • Crise asiática (1997);
  • Quarta-feira negra (1992);
  • bolha financeira e imobiliária do Japão (1991);
  • Segunda-feira negra (1987);
  • Crise do Petróleo (1973);
  • Grande Depressão (1929);

No dia 17 de março de 2020, o índice de volatilidade (VIX) alcançou uma alta de 84.83, bem perto dos 89.53 alcançados na crise mundial de 2008. Até o momento que estou escrevendo, a S&P 500 caiu mais de 30% em 2020 e o índice Dow Jones teve sua maior queda diária desde a Segunda-feira Negra em 1987. 

Neste momento, há  pouca dúvida que, em termos financeiros, a crise causada pelo coronavírus em 2020 é uma que estará nos livros de história. Gestores de ativos, que entraram na crise mais alavancados do que nunca, estão em uma corrida desesperada para obter dólares, fazendo com que o preço da maioria dos ativos caia absurdamente, desde ações até commodities, renda fixa a criptomoedas. 

Os bancos centrais e os governos tiveram resposta rápida. Nos EUA, o banco central reduziu os juros a quase zero, (0% a 0.25%), anunciaram a compra de pelo menos U$500 bilhões em títulos e U$200 bilhões em títulos hipotecários, e também reduziram a reserva mínima de fundos nos bancos comerciais a zero. 

E, provavelmente, ainda teremos mais notícias. Entretanto, está ficando cada vez mais claro que essa é a última sacada dos bancos centrais. Uma política monetária não vai ser suficiente. 

Os bancos centrais estão sem rumo?

Não é mais nenhuma vergonha dizer que os bancos centrais estão no limite do que poderiam fazer. Isso, é, inclusive, uma opinião de todos, mesmo entre os banqueiros. Aqui, você pode escolher seu argumento favorito, ou mais de um, para comprovar essa afirmação:

  • As taxas de juros já estão em seu ponto mais baixo. Elas já estão em 0% e, se formos mais baixo, o público vai simplesmente juntar dinheiro físico em casa;
  • Comprar dívidas governamentais só ajuda os bancos em uma crise de liquidez, o mecanismo que reflete na economia na vida real está quebrado;
  • Alcançamos a taxa de juros negativa, causando contrações na economia;
  • Chegamos no limite das ações da política de expansão monetária dos bancos centrais. Qualquer medida a partir de agora será negativa para os consumidores e terá um impacto negativo no crescimento da economia. 

Os argumentos acima estão se tornando cada vez mais convincentes. A mensagem dos próprios bancos centrais está cada vez mais clara: é hora para incentivos fiscais. 

Nós estávamos no caminho correto para começar?

Talvez, um assunto mais urgente para se falar, é se os bancos centrais estavam no caminho certo no início disso tudo. A resposta para a Pontocom em 2000 foi de abaixar as taxas de juros de 6.5% para 1%, depois, na crise de 2008, a resposta foi de abaixar a taxa de 5.25% para 0.25%.

A política do banco central é baseada em modelos que assumem que a política monetária não impacta na estrutura da economia, que ela só facilita o fluxo do dinheiro no sistema. Entretanto, em nosso ponto de vista, essa atitude tem sido tão extrema, que isso não é mais verdade. 

A política do banco central se tornou o principal fator de mudança na estrutura da economia. As respostas para as coisas piorando garante que, daqui a pouco, as coisas vão ficar piores e, mais uma vez, péssimas. 

Essas políticas das taxas de juros podem ter propagado uma sequência de crises financeiras, e cada uma foi resolvida com uma taxa ainda menor de juros, que, na verdade, criou um ambiente propício para a próxima crise. 

Independente do ponto de vista que uma pessoa pode ter sobre a política monetária, sabemos agora, com poucas dúvidas, de que o sistema atual não pode sofrer outra crise. Chegou a hora de termos uma mudança.

Mudança no regime econômico

Governos ao redor do mundo estão acostumados a lidar com grandes déficits fiscais, não como uma consequência de terem mais gastos, mas parte de uma estratégia para estimular a economia. 

Esses novos déficits enormes serão financiados diretamente pelas compras de seguranças do governo pelo banco central. Elas podem ter vários nomes:

  • The People’s QE;
  • The People’s Bailout;
  • Modern Monetary Theory;
  • Universal Basic Income;
  • Helicopter Money;
  • Fiscal transfers;
  • A Green New Deal;
  • Handout Schemes (Hong Kong & the US);
  • Coronavírus Salary Cover.

O pedido está vindo dos próprios bancos centrais e os governantes estão à postos para responder. Apesar desta política fiscal ser movida pela falta de poder monetário, é improvável que os governos resistam.

Os governos também estão sobre pressão da população. Inicialmente, as demandas podem ser focadas em mitigar o impacto do Coronavírus. Dando fundos às pessoas para poderem comprar suas necessidades básicas se perderem sua renda por das medidas econômicas, e compensando negócios pela perda de faturamento na quarentena. 

Entretanto, o vírus não é o único que vai fazer o governo gastar dinheiro. Populismo, movido pelo aumento das rendas e desigualdade de acesso à saúde também vão pressionar o governo para gastar mais. A crise climática também pode ser uma questão que requer um montante enorme de gastos. 

Dado o impacto da suspensão das atividades econômicas por causa do Coronavírus, não há dúvida de que esta é a direção que estamos seguindo, e indo bem rápido. E não vamos nos enganar, isso é uma grande mudança política e econômica, que terá consequências. 

O choque da inflação

Com política monetária, os bancos centrais estão constantemente com medo de tomar ações que podem ser vistas como beneficiárias para indivíduos. Por isso, o resultado não é tão certo. Mas, teremos um ganhador claro desta nova era de expansão fiscal, a inflação. 

A inflação só não vai chegar, como será um choque. Inflação assim foi erradicada das nossas memórias coletivas. A inflação (nos EUA) tem sido baixa e estável nos últimos 30 anos e os políticos e o público não estão cientes dos riscos. 

Não podemos prever como e onde a inflação surgirá, mas, em algum momento, teremos um choque. Não somente um choque econômico, mas também um choque cultural. Ao nosso ver, a melhor analogia para o momento que estamos é os anos 70, quando a inflação era volátil e chegou a 15%. 

Mercado são intolerantes a mudanças. Não é só a nossa política, economia e cultura que vão ser chocadas pela inflação, os mercados financeiros também. Os mercados estão bastante acostumados ao regime atual, protegidos pelo banco central. Mudando disso para um novo regime, movido pela expansão fiscal e expectativas inflacionárias voláteis será interessante. Temos tempos voláteis a frente. 

O maior teste do Bitcoin

Neste cenário econômico, com inflação alta, o ouro está fadado ao sucesso. Mas, e o Bitcoin? 

O Bitcoin caiu quase 53% por causa do Coronavírus, enquanto os investidores corriam para o Dólar. Isso era inevitável. Onde o Bitcoin pode ter sua vez é na volatilidade inflacionária que irá acontecer como resposta da queda generalizada. 

Na nossa visão (Bitmex), nesse novo regime econômico, onde a economia e os mercado financeiros estão fadados ao fracasso, sem nenhuma âncora, essa pode ser uma das maiores oportunidades que o Bitcoin já viu, em sua curta vida. 

Publicado originalmente em inglês em BitMex

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