Por que o preço dos alimentos subiu tanto em 2020?

Para a maioria das pessoas, fim de ano é sinônimo de ceia farta, é a hora de colocar o chester para assar, cozinhar as castanhas e é claro, não podemos esquecer do pavê, um clássico indispensável para as piadas de natal.  

Mas ao que tudo indica, a fartura na ceia de natal não deve marcar presença na mesa de muitos brasileiros em 2020. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que o Natal de 2020 terá a maior inflação dos últimos cinco anos.

O ano que se iniciou com uma corrida para os supermercados, por conta do lockdown advindo da pandemia de coronavírus, chega ao seu fim com uma perspectiva de diminuição das compras nos supermercados. 

Ao que parece a comida ficou mais “salgada” este ano e o brasileiro foi obrigado a diminuir seu orçamento, principalmente em um momento de elevado desemprego e perda na renda. 

Comer no Brasil ficou caro demais

Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a prioridade no consumo dos brasileiros durante a pandemia foi para alimentos, tendo alguns fatores que contribuíram para isso, como maior parte do tempo em casa, aumento de consumo em função do auxílio emergencial e ainda por exportações aquecidas. 

Em contrapartida, o custo dos alimentos subiu 12,14%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro a novembro. A dupla inseparável no prato dos brasileiros, o arroz e feijão encareceram de forma abrupta este ano, o arroz teve alta de 69,5%, enquanto o feijão carioca, o mais consumido, valorizou 12,9%, e o tipo preto, 40,7%. Ambos os dados fazem referência aos meses de janeiro a novembro, de acordo com o IBGE.

Essa alta pode ser explicada através da regra básica na economia: a lei da oferta e da demanda. Se a demanda é maior que a oferta, os preços sobem e vice-versa. A criação do Auxílio Emergencial aqueceu a demanda no mercado interno, sobretudo, por alimentos básicos e não perecíveis, tais como o arroz e o feijão. 

Além disso, houve um aumento das exportações brasileiras, tendo em vista a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, aumentando ainda mais a demanda, dessa vez externa.

Outro item essencial no prato dos brasileiros obteve aumento significativo, a carne subiu 6,54% em novembro, devido ao aumento das exportações e também dos custos de produção do gado, interligado ao encarecimento dos produtos provenientes da base das rações, como a soja e o milho. 

Todavia, a campeã no aumento de preço foi a batata-inglesa, com 55,90%, essa variação foi impactada em grande parte pelo clima e redução de área plantada. 

Para se ter uma ideia, a região Sul do país, uma das mais importantes produtoras da verdura, passou por uma seca no início do ano, e se encontra novamente em um novo período de estiagem, o que reduziu drasticamente a produtividade e comercialização do produto. 

Alimentação e inflação 

Se engana quem imagina que os fatores produtivos (aumento ou diminuição do plantio ou da criação da pecuária) não estão ligados diretamente aos fatores econômicos, prova disso é a inflação. 

Para aqueles que desconhecem, a Inflação é o aumento dos preços de bens e serviços, capaz de diminuir o seu poder de compra. 

Diversos fatores podem afetar a inflação, seja por causas monetárias, quando há maior impressão de dinheiro pelo governo, seja por causas psicológicas, quando os agentes ajustam o preço porque acham que outro também vai ajustar ou seja por ter uma causa real, quando há um desajuste entre a oferta e a demanda por bens e serviços. 

Sabendo seu conceito e analisando os dados divulgados pelo IBGE, observamos que a inflação acumulada de alimentos e bebidas em 12 meses até novembro está em 15,94%, a maior desde o mês de outubro de 2003, quando o indicador chegou a 17,46%. 

Esse resultado impacta diretamente aos mais pobres, isso porque são eles que dedicam uma parcela maior do seu orçamento à compra da cesta básica. Devemos entender que quanto maior a renda, menor será a participação da alimentação na cesta. 

Banco Central e Governo

O Banco Central (BC) atualizou a projeção do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,35% para 4,39% para o ano. Sendo a 19ª alta consecutiva do indicador, que ultrapassa o centro da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 4%.

Com a inflação neste estado, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia ter alterado a taxa de juros, tendo em vista que a Selic é a principal ferramenta do Banco Central para atingir a meta da inflação. 

Ou seja, quando está abaixo da meta, o BC corta os juros, estimulando o crédito, aumentando o consumo e a inflação. Quando a inflação parece caminhar para acima da meta, o BC eleva os juros, encarecendo o crédito, que por sua vez freia o consumo, reduzindo a inflação.

No entanto, o Copom decidiu pela manutenção da Selic em 2% em 2020. Segundo o órgão, os preços vão voltar a se acomodar nos primeiros meses de 2021. o Ministro da Economia não pensa diferente, para ele o índice de inflação vai se dissipar, tendo em vista a independência do Banco Central, sendo capaz de impedir que a alta transitória de preços prossiga. 

Para o Governo é importante levar em conta o peso de cada item no índice total. Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o BC mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, destacados pelo aumento de preços das commodities e dos programas de transferência de renda, que estimularam o consumo. 

No entanto, seguem monitorando sua evolução com atenção. Por mais que a cesta de consumo tenha subido, não necessariamente revela que há um processo inflacionário no país. O processo inflacionário deve atender uma condição contínua, não pontual, e para além disso, não deve ser generalizada, ou seja, restrita a alguns itens. 

Como quase tudo na economia, a escalada dos alimentos parte de uma combinação de fatores, não há um único vilão para se combater.

A perigo mora logo ali

Apesar das afirmações convictas do Governo, o Índice de preços deve fechar o ano com alta de 4,3%, acima do centro da meta, pressionado pelos alimentos, que tiveram alta procura principalmente por conta do auxílio emergencial e das restrições de locomoção, obrigando as pessoas a comerem mais em casa.

Apesar da previsão de 4,3% se encontrar acima do centro da meta da inflação, que é de 4%, o Conselho Monetário Nacional (CMN) afirma que está dentro da margem de tolerância, de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. 

É preciso destacar que o aumento desenfreado da inflação gera um clima de incertezas na economia, desestimulando o investimento e, assim, prejudicando o crescimento econômico. Além disso, os preços ficam distorcidos, não sendo possível avaliar se algo está barato ou caro.

A inflação mais alta aumenta o custo da dívida pública, tendo em  vista que se estivermos entrando em um processo inflacionário, o Banco Central será obrigado a subir a Selic, que está sendo mais tranquilamente financiada pelo 2% de taxa, com isso, a dívida passará a ser muito mais cara para os cofres do governo. Seria uma grande bola de neve.

Conclusão 

A prévia da inflação de dezembro para itens de alimentação e bebidas foi de 2,0% foi influenciada, sobretudo, pela alta de preços das carnes (5,53%), arroz (4,96%) e frutas (3,62%) no mês. 

Devemos estar atentos principalmente à possibilidade da prorrogação do auxílio emergencial, que de um lado irá fortalecer a recuperação, de outro irá aumentar substancialmente os gastos públicos, extrapolando o teto. 

O desafio do Governo é encontrar uma janela de oportunidade que possa dar continuidade ao programa, encontrando uma fonte de financiamento que se adeque ao crescimento das despesas em ritmo inferior à inflação. 

Apesar de o Banco Central dizer que está “tudo tranquilo”, o consumidor brasileiro fica sem a ceia de Natal, o que lhe sobra é apenas a esperança de um 2021 com menor disparidade entre oferta e demanda de alimentos e melhora da atividade econômica, que se traduz em mais comida na mesa. 

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