Grandes bancos correm o risco de acabar?

Não é de hoje que a concentração bancária no Brasil impressiona. Segundo o relatório de economia divulgado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (7), 81,8% do total de empréstimos concedidos em 2020 foram financiados apenas por 5 Bancos. Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil (BB), Santander e Caixa Econômica Federal. 

Além da alta concentração também presente no crédito imobiliário e rural. No entanto, muito se tem falado sobre a possível morte dos grandes bancos ou pelo menos do modus operandi destes, mas afinal quem são esses concorrentes que estão vindo com tudo? 

A era dos bancos digitais?

Os Bancos Digitais têm revolucionado cada vez mais o setor financeiro, também chamados de fintechs, esses bancos digitais trouxeram algumas novidades com sua tecnologia enxuta e recursos altamente mais fáceis e menos burocráticos.

Por exemplo, o cartão de crédito sem anuidade, tornou-se algo comum, conta sem tarifas e transações gratuitas também, isso gerou um impacto forte na receita de serviços dos grandes bancos, que dessa forma se sentiram pressionados.

Mudar ou não, eis a questão

Segundo Jairo Saddi, um dos maiores especialistas em sistema financeiro do Brasil. As fintechs não são a pedra no sapato dos grandes Bancos e não representam nenhuma mudança estrutural, apenas evidenciaram mudanças que já eram necessárias.

Além disso, Saddi destaca a necessidade de encantar o cliente e fazer com que o mesmo entenda que o Banco o está ajudando e não o enganando, como é a crença do consumidor em relação aos bancos em geral.

“A relação da Apple com o cliente, por exemplo, é absolutamente transparente. O cliente compra porque está encantado. Mas sabe que está pagando caro por isso. O Banco precisa ter proposta de valor”, destaca ele.

Para ele nem mesmo o Pix representa algum tipo de mudança estrutural, dado que fundamentalmente os agentes financeiros continuam a oferecer os mesmos produtos bancários de sempre, apenas com uma melhor apresentação e facilidade de uso pelo cliente.

 “Se olhar bem, nem a redução de custo é uma verdade. Elas trazem, portanto, evoluções superficiais, diferentemente do que fizeram os ATMs, criados em 1962, e o cartão de crédito, pelo sistema financeiro.”

Os grandes bancos estão atentos

Segundo William Sávio, assessor de investimentos da XP, não há cenário de quebradeira dos grandes bancos, de forma alguma. O impacto que os bancos sofrem na queda de receitas de serviços, pode ser comparado a queda de receitas do sms por uma companhia telefônica, graças ao WhatsApp.

Ou seja, os grandes bancos continuam não sendo ameaçados nas áreas de crédito, estruturação de dívidas, investimentos e seguros. Apesar disso, eles não estão parados.

Contas digitais dos grandes bancos

Itaú lançou o iti em 2020. Um serviço de pagamentos com transferências e compras totalmente virtuais, além da possibilidade de realizar saques em caixas 24 horas.

Seguindo a mesma linha, o Santander lançou a Superdigital, a conta em que os clientes podem solicitar um cartão pré-pago, além de outras movimentações de forma gratuita.

Já o Bradesco, possui uma conta digital repaginada com conceito moderno e bastante jovem, com o Next é possível fazer transferências, pagamentos e obter um cartão sem anuidade, além dos mimos (vantagens) oferecidos pela instituição.

Enquanto isso, o Banco do Brasil lançou a Carteira BB, com todos os benefícios das demais contas digitais, no entanto, sem um cartão físico para compras, somente é possível efetuar pagamentos através de QR Code.

Queda no ROE e expectativas para os próximos anos

As receitas dos grandes bancos se dividem entre, crédito, prestação de serviços e seguros. Como vimos acima, a parte mais afetada pela competição com as fintechs é a prestação de serviços.

No entanto, a competição pelas demais fatias do bolo, tem trazido retornos menores para os grandes bancos, antes dos aplicativos de celular, os bancos tinham menor custo de captação e mais retorno com o acesso de clientes pelas agências, receitas diversificadas graças aos milhares de funcionários distribuídos pelo País.

No entanto, empresas como XP e Nubank, conseguem um grande ganho de escala com baixos custos operacionais, pressionando a receita dos grandes bancos.

O gráfico abaixo, indica que o alto Retorno para os acionistas têm ficado para trás e que há uma expectativa de queda para os próximos anos.

Grandes bancos correm o risco de acabar?

Segundo o Analista da Apex, Paulo Weickert, essa forte competição incentivada pelo Banco Central com a implementação do open banking, deve contribuir para que o ROE desses grandes bancos se estabilize na casa dos 12%.

“Os bancões vão continuar a existir, vão ser empresas muito saudáveis e rentáveis, com nível de retorno ainda bom, mas abaixo do que é hoje“, afirma.

Pix e open banking

Duas novidades recentes que devem impactar a receita dos bancos, são o Pix e o open banking, o Pix, já implementado retira a receita proveniente de serviços como Doc e Ted, já o open banking deve ampliar a concorrência.

Em suma, o que o open banking se propõe é devolver o acesso aos dados do cliente para as mãos do próprio cliente, permitindo que este autorize ou não, o compartilhamento de suas informações com as demais instituições financeiras. O que deve permitir ao cliente cotar produtos financeiros em diferentes instituições buscando o mais adequado para sua necessidade.

Conclusão

O Grande desafio para os bancos não está apenas concentrada nas fintechs como visto. Nesse sentido, as fintechs apenas evidenciaram um problema que já existia, que é uma adequação da necessidade do cliente em relação ao que banco oferece.

Não dá mais para simplesmente empurrar produtos. O Pix, o open banking, a taxa de juros baixa e a necessidade de encantar esse cliente que agora se acostuma a não apenas não pagar por serviços, mas também receber dinheiro e benefícios extras de volta, como o cashback, provoca nos grandes bancos, uma necessidade profunda de olhar para o modelo de atuação.

Por fim, não há como dizer quem serão os vencedores dessa batalha, o que podemos dizer, é que isso tudo beneficia o consumidor final, o que é ótimo. Também podemos afirmar com um certo grau de confiança, que os grandes bancos não irão deixar de existir, continuarão sendo um excelente negócio, no entanto com receitas menores do que antes.

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