Ibovespa em queda pela 6º vez: Confira os motivos

Sabemos que 2020 não foi um ano fácil, partindo da perspectiva da Bolsa de Valores, em seu pior momento do ano, em março, o Ibov se aproximou dos 60 mil pontos, foram 6 circuit breakers, provocados pela pandemia ainda no primeiro trimestre, com as medidas de lockdown afetando o resultado de diversas empresas e economias. Creio que neste momento, a esperança de dias melhores nunca esteve tão longe do investidor. 

Todavia, remando contra a maré, o Ibovespa subiu cerca de 90% ao longo do ano e em seu último pregão de 2020, atingindo a máxima histórica para o intradia, batendo 120.150 pontos, declinando um pouco e encerrando o ano de 2020 em 119.017 pontos, resultado esse melhor do que em 2019, quando o Ibov fechou em 115.645 pontos.

Esse resultado pode ser explicado pela esperança do mercado na distribuição das vacinas contra a covid-19, tendo em vista que uma imunização mais rápida da população mundial, poderia ajudar na retomada econômica diante do fim das restrições de isolamento. No entanto, ao que tudo indica, não será tão rápido assim.

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Rali das vacinas chega ao fim 

Como todo rali, uma hora é dada a última bandeirada, o último carro passa pela linha de chegada e a corrida tem seu fim, não foi muito diferente com o Ibov. A chegada das vacinas não conseguiu aumentar expansivamente o apetite por ativos de risco no Brasil e no restante do mundo. Apesar de muitos países já terem iniciado o processo de vacinação, podemos observar uma gradual retomada das medidas de distanciamento social, principalmente na Europa, por conta da forte disseminação de uma variante do Coronavírus.

Aqui no Brasil, o governador de São Paulo, João Doria, começou a vacinar as pessoas na linha de frente do combate à doença com o imunizante CoronaVac. No entanto, retornou para a fase vermelha, adotando medidas mais rígidas para conter o avanço da Covid-19, proibindo o funcionamento de bares, restaurantes, comércio e shoppings no fim de semana, e entre 20h e 6h nos dias úteis. 

Por parte do Governo Federal, 2 milhões de doses da vacina desenvolvida em parceria entre AstraZeneca e Universidade de Oxford, produzidas pelo Instituto Serum, da Índia, chegaram ao Brasil. O esperado é que mais 10 milhões de doses da vacina devem chegar da Índia em 8 de fevereiro. 

Já nesta semana, na sexta-feira (29), o Instituto Butantan começará a liberar para o Ministério da Saúde 3,2 milhões de doses da CoronaVac, o quantitativo faz parte das 4,1 milhões de injeções aprovadas em um segundo pedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e cuja distribuição será fracionada.

Mesmo com a progresso da vacinação no Brasil, em ritmo lento, o mercado se deu conta de que vacinar toda população, não significa necessariamente o retorno da normalidade de forma expressa. Conforme explicado pela bióloga Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, depois de tomar a vacina, é preciso voltar para casa, manter o isolamento social, aguardar a segunda dose e depois esperar pelo menos 15 dias para que a vacina atinja o nível de eficácia esperado.

Com esse descompasso entre o cenário lúdico e o mundo real, as maiores afetadas são as empresas presentes no Ibov, que terão que esperar um pouco mais para que os resultados possam vir da forma que esperam, em um Brasil pós vacinação.

O famoso jeitinho brasileiro

O “jeitinho brasileiro” ainda se mostra como uma marca cultural terrível em nosso país. Em 12 estados e no Distrito Federal há denúncias de que políticos, empresários e funcionários públicos receberam doses da CoronaVac mesmo não fazendo parte dos grupos prioritários.

Mas não para por aí, podemos perceber que a pauta da vacinação gira mais em torno da briga política entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, em torno da disputa pelo Palácio do Planalto em 2022, do que na própria preocupação sanitária. 

Acompanhando a lentidão da vacinação em paralelo à escalada da covid-19 no Brasil, os investidores ficaram ainda mais temerosos com o futuro da economia brasileira, refletindo na queda do Ibov. 

Fiscal em xeque 

A dificuldade em torno da distribuição da vacina, não gera apenas um problema sanitário para o Governo, além disso, ameaça emplacar a retomada da discussão sobre extensão do auxílio emergencial.

O candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro à presidência do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse ser necessário retomar a discussão sobre um auxílio aos mais necessitados frente à crise provocada pelo coronavírus. 

Uma nova prorrogação poderia extrapolar ainda mais a dívida pública e aumentar o risco de descontrole da situação fiscal. Para se ter uma ideia, o programa de auxílio teve um gasto de aproximadamente 10% do PIB, com nossa dívida bruta saltando de 78% para 92%.

Mas os problemas não param por aí, a queda da popularidade de Bolsonaro traz um novo dilema para a situação fiscal no país, ou a escolha por maiores gastos na tentativa de melhorar os seus índices de aprovação ou garantir um ambiente mais propício para a atração de investimentos e controle dos gastos públicos. 

Ambas as escolhas sofrem pressões políticas opostas, de um lado, o comprometimento com a pauta liberal de Guedes, que pretende de todas as formas manter o teto de gastos. De outro lado, alguns de seus ministros militares, que pressionam para que os recursos sejam utilizados em busca de maior popularidade do presidente, tendo em vista sua pretensão de um segundo mandato em 2022. 

A cada dia que passa, o cenário político brasileiro fica cada vez mais complexo, não só a pressão pela volta do auxílio emergencial, mas também recentes boatos sobre um desmembramento do Ministério da Economia, o que colocaria Paulo Guedes em uma situação delicada. Com todos esses ruídos o mercado se cansou de retórica, refletindo no péssimo desempenho do Ibov.

Banco Central  na corda bamba

Sabemos que a Taxa Selic é uma importante ferramenta utilizada pelo Banco Central para controlar a  inflação e consequentemente o consumo das famílias e a tomada de crédito no país.  Além disso, a Selic tem influência em todas as taxas de juros do país, como dos empréstimos, financiamentos e das aplicações financeiras.

Taxa selic vs Ibov

Por conta dos contextos mencionados anteriormente, o Banco Central se vê obrigado a obrigar a subir os juros básicos (Selic) antes do previsto. Isso porque quando o país se encontra num estado muito crítico de endividamento e possui dificuldade para cortar gastos, a solução mais imediata é elevar a taxa básica de juros para aumentar sua arrecadação.

No entanto, caso essa situação ocorra, o crédito que as empresas tomam para financiar suas operações fica mais caro, ou seja, o setor privado fica mais endividado, de forma geral. Acrescido ao contexto da pandemia, em que a produção e as vendas já estão em baixa, a alta dos juros acaba dificultando ainda mais as empresas. 

Com endividamento maior, as empresas listadas no Ibovespa irão oferecer menos retornos aos seus acionistas, o que aumenta o risco e afasta alguns investidores. Além disso, com a Selic mais alta, se torna mais caro para os bancos tomarem dinheiro do governo para emprestar à população,  refletindo diretamente nas vendas e lucro para os setores de comércio e serviços. 

Vale lembrar que em um ambiente de juros mais altos, a busca por ativos de risco pode diminuir, o que afeta diretamente no desempenho do Ibov.

O inimigo invisível: Inflação 

Mesmo a última decisão do Banco Central em manter a taxa Selic em 2% ao ano, os dados sobre a inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), reforçam ainda mais as preocupações com o acúmulo de pressão de alta nos preços, coagindo ainda mais o BC. O IPCA-15 acelerou 0,78% em janeiro, após ficar em 1,06% em dezembro, este resultado é o maior para um mês de janeiro desde 2016, quando o índice foi de 0,92%.

Pressionado pelos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2020 em 4,52%, acima do centro da meta para o ano, que era de 4%.

Inflação

Caso o BC venha a aumentar os juros para controlar a inflação e o risco fiscal, o resultado nos já vimos acima, é uma faca de dois gumes, ou optamos manter pelo menos 6 meses de atividade econômica fraquíssima, com consequências sociais profundas. Ou optamos por aumentar o gasto fiscal, gerando consequências negativas para a atividade econômica. 

Veja também: O dilema do Banco Central Brasileiro: manter ou subir a Selic?

Conclusão

A euforia de 2020 se foi, quando a Ibov chegou a 125 mil pontos. De lá para cá, o que restou foram as dúvidas sobre o processo de vacinação no Brasil, a situação fiscal e a retomada da economia. Além disso, houve um processo de a realização de lucros na bolsa após o Ibovespa renovar marca histórica no dia 8, quando fechou em 125.076,63 pontos.

Todos os ruídos políticos e econômicos relatados acima, acenderam o sinal de alerta no mercado e conduziram o ajuste no Ibovespa. É o sexto dia consecutivo de perdas para o Ibovespa, o que configura a pior sequência de resultados desde janeiro de 2020. Ontem (27) o Ibov perdeu a marca dos 116.000 pontos, encerrando o dia em queda de 0,50%, aos 115.882 pontos. 

Índice Ibovespa - IbovFonte: TradingView – Gráfico Ibovespa – 30 dez de 2020 – 26 jan de 2021

Ao olharmos a performance das bolsa mundiais na semana passada (18/01 – 22/01), veremos que o Ibov obteve o pior desempenho, fruto da dificuldade do país no enfrentamento da pandemia e na manutenção de uma política fiscal e econômica em  harmonia.  

 desempenho

Nesta semana, as ações dos bancos estão entre as principais quedas do Ibovespa, seguindo a correção dos últimos dias, tendo em vista que muitos investidores zeram suas posições com as recentes altas no preço das ações. 

As preocupações com uma provável redução na produção de siderúrgicas, em razão dos elevados custos de produção e de demanda fraca, fizeram Vale (VALE3) recuar 2,78%, em dia de queda dos futuros do minério de ferro na China. Assim como, Usiminas (USIM5) -2,66%, CSN (CSAN) -2,73% e Gerdau (GGBR4) -1,83%.

As ações ordinárias da Eletrobrás (ELET3) e as preferenciais de classe B (ELET6) lideraram as perdas do Ibovespa, com quedas de 10,09% e 6,8% respectivamente. O motivo foi a saída do presidente da Eletrobrás, que se mostrou insatisfeito com o Governo em relação à promessa de privatização. 

Veja também: O que falta para o Brasil voltar ao Grau de Investimento no cenário mundial?

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